Depois das eleições, há sempre espaço para a leitura dos resultados e para os discursos de vitória. Há quem vença porque tem mais votos, mas quem proclame vitória com menos de dez mil em toda a região.
A discussão política não devia resumir-se a isso.
Mais do que saber quem ganhou, importa perceber como se ganhou, ou se perdeu. Porque há vitórias que deixam feridas e derrotas que deixam orgulho.
É por isso que vale a pena sublinhar algo que, por vezes, passa ao lado das análises políticas: nesta eleição, prevaleceu a hombridade. Em grande parte dos concelhos, fez-se campanha com seriedade. Com respeito. Com trabalho. Com campanhas centradas nas ideias e não nos ataques. Com programas pensados, propostas claras e discursos que falam às pessoas, não contra os adversários.
E quando assim é, mesmo as derrotas têm um sabor diferente.
Valorizo quem faz campanha a favor de si próprio, e não contra os outros. Quem escolhe discutir propostas, e não lançar insinuações. Quem acredita que a política se faz com firmeza, mas também com elevação. E fico muito contente por ver que na maioria dos casos o povo rejeitou quem assim não fez.
Na política, como na vida, não é só o resultado que importa. A forma como se chega lá vale muito.
Por fim queria deixar duas notas: uma política e outra de memória.
A política é para dizer que eu valorizo muito quem respeita o papel das estruturas partidárias locais. Colocar lideranças regionais ou nacionais em causa por listas não atingirem os seus objetivos é um erro. Desresponsabiliza quem também tem responsabilidades e mina a confiança dum sistema que precisa de equilíbrio entre centralidade e a autonomia.
Por fim, uma nota de memória a todos: os movimentos independentes não são uma novidade nos Açores. Governaram a Calheta de São Jorge durante doze anos, lideram a Freguesia de Santa Clara há vinte anos, e o primeiro de todos foi na Ribeira Quente em 1976. Há quase 50 anos.
(Crónica escrita para Rádio)