I. União desavinda
Não é possível reforçar o papel da União Europeia no mundo se, internamente, não garantirmos a coesão e um sentido de missão e de pertença comuns. Não há outra forma de o dizer: da mesma forma que, em diversos países, assistimos ao crescimento de forças contrárias ao regime democrático, também na UE medram os políticos nacionalistas que apelam ao pior que há na consciência humana. Crescem as forças contrárias ao projeto europeu e que, na verdade, o querem liquidar. Aos moderados cabe a defesa firme da UE. Convém, no entanto, não esquecer que a tolerância com os intolerantes só beneficia estes últimos.
II. Mercosul
São mais de 25 anos em negociação. O acordo, nas suas múltiplas dimensões (comercial, política, estratégica, económica) tem mais vantagens do que desvantagens. Como responsável pelos socialistas europeus pela opinião da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural, assumirei a responsabilidade de pugnar pelos interesses da UE não só no curto, mas também no médio e longo prazo.
III. No mundo cor de laranja
Entretanto, por cá, seis conselhos de ilha já deram parecer negativo à anteproposta de Plano e Orçamento dos Açores para 2026. Será, provavelmente, um recorde. Mas, como já é costume, o Governo assobia para o lado e continua alegremente submerso no seu mundo cor de laranja, com o dossiê SATA a ameaçar explodir-lhe nas mãos e uma dívida galopante que, em apenas 5 anos, cresceu monstruosamente mais de 40%. Pior mesmo, é termos à frente do leme quem, face a tudo isto, nos relembra, sempre que fala, a célebre e irónica pergunta de Melvin Udall, no filme "Melhor é Impossível": "what if this is as good as it gets?".
IV. Socialista assumido...
Quando, como na terceira década deste século, há quem, novamente, se esforce para diabolizar os partidos políticos para, em troca, oferecer uma mão cheia de nada; quando, depois de uma maioria de direita conquistar os 2 Governos regionais, o Governo da República, a Presidência da República, um conjunto de forças partidárias só justifica a sua união - e, em alguns casos, a sua própria existência - em função de serem anti PS; quando, aqui e ali, ressoam posições primárias, algumas até perigosas para a democracia tal qual a conhecemos; quando, mais importante do que causas e princípios, subsiste um projeto de poder pelo poder, assente numa manta de retalhos que tudo aceita e tudo colhe em nome da sua própria sobrevivência; quando o cidadão comum deixa de ser a razão de ser, a causa de agir, e se confunde no meio da truculência do debate, perdendo a confiança no rumo a seguir; quando a nossa própria Autonomia corre o risco de se subalternizar em prol de interesses de circunstância; quando a desigualdade cresce e arrisca matar o mérito e o elevador social parece avariado e sem remissão; quando há um manto de silêncio cúmplice que, perante a incompetência, a incúria e até mesmo alguns atos de vingança, cala as vozes, outrora incomodadas e até indignadas porque 24 anos era muito tempo; quando é essencial reconhecer com humildade os erros e omissões do passado para recuperar, no presente e para o futuro, a confiança daqueles que a perderam; quando, sem temores ou hesitação, é urgente reinventar, refazer, repensar e reerguer, fazendo o melhor que pudermos com aquilo que temos porque de outra forma seria uma traição ao nosso modo coletivo de ser e de estar; quando, em suma, é fundamental resistir, ter coragem, batermo-nos por causas, ideias e valores, em nome de um futuro mais promissor para as gerações atuais e para as vindouras, mas, também, por respeito às conquistas a duras penas realizadas por aqueles que nos antecederam...que não haja dúvidas: os Socialistas não só continuam a fazer falta, como são indispensáveis para travar o bom combate em nome dos Açores que somos, mas sobretudo em nome dos Açores que ambicionamos ser.