Muito se apregoa o progresso em Ponta Delgada, mas a realidade, cristalina, é que esse suposto desenvolvimento continua a ser um privilégio de poucos e uma miragem para muitos. Enquanto alguns - os do costume - aplaudem inaugurações, cortam fitas e acumulam manchetes, uma parte significativa do concelho de Ponta Delgada continua esquecida, ignorada e negligenciada.
Nas freguesias periféricas, a vida quotidiana é marcada por carências gritantes. O acesso à saúde continua a ser uma autêntica maratona. Há quem tenha de percorrer longas distâncias para uma simples consulta médica ou para realizar exames de rotina. Este não é apenas um problema logístico: é uma violação do direito à saúde.
No campo da educação, o cenário é igualmente desolador. As oportunidades são desiguais, com muitas crianças privadas de acesso regular a atividades extracurriculares ou transportes escolares fiáveis. Em pleno século XXI, falar de igualdade de oportunidades torna-se uma falácia quando a geografia dita o acesso - ou a falta dele - a uma educação digna.
A cultura, essa que deveria ser o cimento das comunidades, continua refém de uma centralização asfixiante. O que não acontece no centro urbano pura e simplesmente não existe. O resultado é um empobrecimento generalizado da vida cultural nas freguesias rurais, que vivem isoladas da dinâmica concelhia e são tratadas como meros apêndices sem importância.
Estas desigualdades não são fruto do acaso, são consequência direta de políticas municipais que preferem o brilho fugaz dos grandes eventos à transformação estrutural do território. A Câmara Municipal de Ponta Delgada tem falhado, rotundamente, em garantir uma distribuição equitativa dos investimentos públicos. Infraestruturas degradadas, vias de comunicação obsoletas e falta de equipamentos sociais. Tudo isto denuncia uma total ausência de visão estratégica e uma governação centrada no imediatismo e na cosmética.
E o que resulta desta negligência? O abandono. Jovens e famílias procuram melhores condições de vida fora das suas freguesias - muitas vezes fora dos Açores - contribuindo para o envelhecimento e esvaziamento progressivo de grande parte do concelho. Sem gente, não há futuro. E sem futuro, não há desenvolvimento que se sustente.
Não basta repetir promessas ocas de coesão territorial ou pintar de progresso aquilo que é apenas fachada. É preciso coragem política para romper com o comodismo e a lógica centralizadora. Ponta Delgada precisa, urgentemente, de uma política que coloque as pessoas - todas - no centro da ação.
Um concelho verdadeiramente desenvolvido é aquele que não deixa ninguém para trás.