Participei esta semana, a convite do Governo dos Açores, na Cimeira S3 - Smart Specialisation Strategy, numa mesa-redonda sobre “O papel da Ciência na nova política de coesão pós 2027”.
Mais do que uma fonte de financiamento, a política de coesão é um instrumento vital para garantir dignidade, progresso e competitividade numa região marcada por especificidades geográficas, económicas e sociais. Mas, se quisermos que a ciência e a inovação deixem de ser temas de conferências e se tornem motores reais do nosso desenvolvimento, temos de mudar de ritmo — e de ambição.
Apesar dos esforços das últimas décadas, a verdade é que os Açores continuam a ser a região do país com os piores indicadores de escolaridade e uma das mais frágeis em termos de investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D). A nossa taxa de escolaridade superior ronda os 22,7% — metade da média nacional — e a proporção da população residente com o ensino secundário completo fica muito aquém da média europeia. O investimento em Investigação, Ciência e Desenvolvimento é mais baixo na nossa Região que nas restantes regiões do País e vem maioritariamente do setor público, quando a nível nacional são as empresas que lideram esse investimento. Como queremos ser competitivos se conseguimos, ainda, superar estes fatores de bloqueio?
A Estratégia de Especialização Inteligente (RIS3), que deve nortear os investimentos em I&D, e foi aprovada em 2022, é um bom ponto de partida. Mas só terá impacto se for mais do que um documento tecnocrático. Tem de ser a base de um contrato social e de desenvolvimento. Tem de efetivamente gerar resultados concretos: mais emprego qualificado, mais empresas a investir em inovação, mais retenção de talento. E tem, ainda, de ser acompanhada de coragem política — para priorizar, para exigir e para mobilizar.
Foi, por isso, que defendi três prioridades imediatas.
A primeira: Educação. Sem capital humano qualificado não há ciência, nem inovação, nem desenvolvimento sustentável. É indispensável um pacto regional para a educação, com metas claras, recursos alocados e um combate determinado às desigualdades sociais que travam a progressão escolar. Sem isto, todos os milhões investidos terão retorno marginal.
A segunda: uma nova cultura de inovação. A ciência tem de sair dos gabinetes e entrar nas empresas, nas cooperativas, no setor agrícola, na economia do mar, no turismo sustentável. Há exemplos já em curso - como no setor leiteiro - que mostram que é possível inovar com impacto económico. Mas, precisamos de uma teia de incentivos, programas de mentoria e incubação, captação de quadros e, sobretudo, de uma nova cultura de risco.
A terceira: governação orientada para o impacto. A próxima política de coesão será, muito provavelmente, centrada em missões territoriais, não em eixos temáticos. Isso exige que saibamos o que queremos mudar e como medir esse progresso. Não basta cumprir taxas de execução financeira. É preciso transformar a realidade: reduzir a pobreza, fixar jovens, gerar valor.
O desafio é este: transformar uma região periférica numa referência europeia em inovação sustentável.
Mas, para isso, não chega apontar o dedo a Bruxelas ou esperar por mais fundos. Precisamos de compromisso. Das empresas, da universidade e dos centros de investigação, da sociedade civil. E precisamos de líderes - políticos, científicos, empresariais - que não tenham medo de fazer diferente.
Crimes contra a humanidade
As atrocidades que têm sido cometidas pelo Governo de Israel em Gaza, desde há algum tempo, devem merecer a mais ampla condenação e repulsa individual, institucional e internacional.
A justa retaliação contra o Hamas pelos eventos de 7 de outubro de 2024 e a procura da libertação de todos os reféns ainda detidos por aquele grupo terrorista não são desculpa, nem justificam a destruição, ataques e ações ignóbeis que têm sido perpetradas pelas forças de defesa de Israel contra civis palestinianos em Gaza.