Os agricultores da ilha Graciosa, através da sua associação representativa, vieram novamente a público lamentar as dificuldades enfrentadas no serviço de transporte marítimo de carga, que continua a prejudicar gravemente o setor agrícola graciosense.
Aliás, este tipo de queixas não se limita à Graciosa, repetindo-se por todas as ilhas dos Açores, evidenciando, assim, a gravidade da situação.
Um mês depois a última exportação de gado vivo, tempo que dá para quatro escalas dos navios de cabotagem insular, cerca de duzentas cabeças de gado continuam na ilha, à espera de uma próxima oportunidade de transporte, sem qualquer previsão.
Esta situação só vem confirmar as limitações do serviço, que, apesar da promessa de melhorias que acompanhou o aumento da frequência, tem piorado de forma bem visível.
No transporte aéreo, os problemas também se acumulam. Apesar de a Graciosa ser a quarta ilha da região com maior volume de carga aérea embarcada, os exportadores de peixe enfrentam enormes dificuldades.
O aumento das rotações não foi acompanhado pelas soluções mais eficazes. Em alguns dias da semana, os horários tornam inviável a exportação, nos outros, a tipologia do equipamento utilizado pela companhia aérea regional, limita a sua capacidade de transporte.
As dificuldades não se restringem ao transporte de mercadorias. A disponibilidade de lugares em voos para passageiros, especialmente para aqueles que precisam viajar por motivos de saúde, tem sido uma enorme preocupação.
Como se isso não bastasse, a partir de junho, a SATA vai começar a cobrar uma taxa adicional por carta de porte ao fim de semana, aumentando os custos para os utilizadores.
Apesar dos alertas sucessivos ao governo sobre os problemas relacionados com o transporte, nada tem sido feito para reverter esta situação.
A economia da Graciosa, tal como a das restantes ilhas, tem sido severamente afetada por uma operação desorganizada de transporte por via marítima e uma operação por via aérea com ineficiências persistentes.
Sobre esta matéria, o governo parece mais preocupado em fazer anúncios do que em resolver os problemas.
Primeiro, foram realizados estudos que não trouxeram qualquer novidade. Depois, surgiu a decisão dos navios elétricos, que acabou por não acontecer. Recentemente, para sensibilizar os restantes europeus, o governo afirmou que o mar dos Açores é a "nossa ferrovia", esquecendo de que foi este mesmo governo que acabou com os ditos "comboios" marítimos. E, para além disso, assentou a mobilidade dos açorianos no transporte aéreo, sem um planeamento cuidado para enfrentar o previsível aumento da procura.
A mudança de paradigma anunciada pelo governo pode até soar como um slogan, no entanto, essa mudança precisa ser acompanhada por ações concretas que resolvam os problemas que afetam os açorianos.