Opinião

Campanha à medida

Estava prevista uma verdadeira parada de governantes, e outras figuras, a desfilar pela Graciosa, à conta de eventos patrocinados pelo erário público. Se ao menos não estivéssemos em plena campanha eleitoral, estas visitas seriam bem-vindas porque poderiam dar um contributo para melhorar os números do turismo.

Os períodos de campanha são conhecidos por exigir uma certa contenção nos atos oficiais, mas parece que os princípios éticos são muito falados, mas raramente praticados.

Tivemos o responsável pelo ambiente, seguido pelo da agricultura, que aparentemente ia repetir a viagem três dias depois, o que acabou por não acontecer.

Depois era a vez do presidente do Governo, mas esse acabou, também, por não aparecer. Apesar destas desistências de última hora, não ficámos por aqui. Fomos presenteados com toda a administração de uma empresa pública ligada à agricultura. Tudo isto nuns impressionantes oito dias que coincidiam, exatamente, com a primeira semana dedicada à campanha eleitoral. Não acredito em coincidências.

Os eventos públicos foram, sem dúvida, momentos importantes e que envolveram gentes da Graciosa, mas resultou num desfile de aparências, porque o que era preciso esclarecer ficou na mesma.

Teria sido importante que algum responsável da saúde pudesse aparecer por aqui para explicar às famílias graciosenses a dualidade dos critérios para deslocação de doentes e dos seus acompanhantes. Talvez pudesse também ajudar a resolver os atrasos nos reembolsos ou, quem sabe, melhorar as condições assistenciais na Unidade de Saúde, que está numa fase em que os utentes dizem nunca terem visto.

Seria igualmente importante se a responsável pela educação pudesse “fazer o favor” de explicar por que ainda não foi capaz de resolver a questão da legionella na Escola Básica e Secundária, que continua sem balneários funcionais, sete meses depois de um surto que tentou esconder dos graciosenses. Ou, ainda, explicar a questão, que está sempre a negar, do recorrente subfinanciamento das escolas.

E talvez pudéssemos ter o privilégio de receber a secretária da habitação para ver, com os seus próprios olhos, o mau estado de algumas casas do Governo às quais não ligam nada.

O titular das pescas também poderia passar por cá para esclarecer os pescadores sobre o drama da gestão da quota do goraz após os cortes anunciados. Aproveitava, ainda, para explicar por que razão os pontões continuam a ser um risco permanente para os utilizadores do Porto de Pescas.

Por estes, os graciosenses vão continuar à espera e os problemas que mais os afligem vão persistir no tempo.

Governar, ao contrário do que parece, não é só aparecer na fotografia e andar de festa em festa. Governar é, acima de tudo, encarar e resolver os problemas reais das pessoas, mesmo quando essas questões são incómodas.