Opinião

Mais Europa em tempos de crise

Desde o início do século que, por mais do que uma vez, o projeto europeu se confrontou com sérias ameaças, algumas das quais pré-anunciavam o canto do cisne da União Europeia. No espaço de pouco mais de duas décadas, tivemos que enfrentar a crise do subprime, a crise das dívidas soberanas, a crise energética, a pandemia da Covid-19, o surto inflacionista e o regresso da guerra ao continente europeu, com a invasão russa da Ucrânia.
A tudo isto - que já não é pouco - acresce a ameaça existencial das alterações climáticas e, também, as alterações demográficas e a reconfiguração da ordem internacional a exigirem respostas estruturais para as quais o tempo é limitado face à urgência que se impõe.
Mas, se hoje o projeto europeu se depara com desafios e exigências a uma escala verdadeiramente global, não é menos certo que, ainda assim, a UE tem ultrapassado, é certo que com limitações e frustrações, às várias crises com que, num curtíssimo espaço de tempo, se tem deparado.
Na semana em que assinalamos o Dia da Europa (9 de maio) é justo reconhecer que, desde a sua origem, a União Europeia é a mais ambiciosa construção política de paz da história moderna.
Um projeto que transformou nações divididas por guerras ferozes em parceiros ativos que juntos constroem o seu futuro.
Portugal é um exemplo do que a União Europeia representa em termos de progresso, desenvolvimento e coesão. E os Açores, no coração do Atlântico, simbolizam bem como a Europa abraça a sua diversidade geográfica, cultural e humana.
Mas a Europa enfrenta hoje enormes desafios, desde ameaças externas à democracia, às mudanças climáticas e às crises geopolíticas. É, pois, mais urgente do que nunca defender esta ideia europeia, esta ideia simples de que todos contamos, de que todos somos e fazemos o projeto europeu.
Precisamos de uma União mais coesa, mais forte e com uma presença global séria, capaz de defender os seus cidadãos, os seus valores, a nossa democracia.
Precisamos de uma União em que todos participem e em que todos façam sentir a sua voz. Precisamos, também, de defender esta ideia, esta Europa que construímos, de todos para todos.
Quando, em pleno século XXI, se espreitam no horizonte semelhanças assustadoras com um tempo em que as democracias eram ameaçadas por forças autoritárias, quando a liberdade e a tolerância são, por uma parte apreciável da população, vistas como fraquezas e não como valores e forças de uma sociedade pujante e saudável, quando os factos baseados em conhecimento científico são afastados pelas opiniões insufladas por egos políticos que vêm o mundo como um recreio das suas ambições pessoais, é, sobretudo, nestes tempos de incerteza e de perigos que os valores fundacionais da União Europeia têm que se constituir como verdadeiros baluartes civilizacionais. Seja nos Açores, em Portugal, ou em qualquer outra realidade geográfica, uma ameaça à democracia é, na verdade, uma ameaça a todos nós e ao modo de vida que prezamos e celebramos na nossa União Europeia. Saibamos, pois, defender este modo de vida de liberdade e de democracia que nos assegura paz, segurança e progresso.