Há dias em que a metáfora se materializa de forma genuína. O apagão que mergulhou o país na escuridão foi mais do que um colapso técnico: foi um retrato de uma fragilidade maior. Sem energia, sem explicações claras, sem coordenação visível, cada um reagiu como pôde. Uns correram aos supermercados, outros agarraram os telemóveis para tentar apanhar um fio de informação num sistema que também falhava e outros, que deviam ter sido suporte, mandavam fechar escolas.
No escuro, a ausência de orientação torna-se chocante. A falta de comunicação eficaz abriu espaço para as fake news, para o medo, para o improviso, para um caos silencioso de quem, sem saber o que esperar, se precipita em respostas instintivas. O fenómeno não é novo, nem é exclusivo do fornecimento elétrico.
Cada vez mais assistimos a governações que, incapazes de transmitir rumo ou confiança, deixam populações entregues à ansiedade do desconhecido. Acontece no Continente, mas não só. Acontece quando decisões surgem rodeadas de opacidade, quando planos se confundem com reações, quando o discurso público oscila ao sabor do imediato.
Tal como no apagão, não é a falha da luz que mais marca, é o que resulta disso: o vazio, a falta de respostas, uma ausência de liderança que oriente.
Perante a escuridão, improvisamos. Mas a improvisação, sendo útil numa emergência, não pode ser a base da organização do coletivo nestes casos.
Mais do que geradores ou velas, o que precisamos é de líderes que sejam faróis. Que, nos momentos de maior incerteza, mesmo não tendo todas as respostas, sejam capazes de oferecer, ao menos uma orientação.
A política, no seu sentido mais nobre, tem de ter a capacidade de organizar um esforço comum, de mobilizar o povo e sobretudo de o comprometer com um propósito.
Que aquilo que aconteceu sirva para aprenderem como não deve agir um político.
(Crónica escrita para Rádio)