O Presidente da República resolveu alterar a sua agenda e passar pela Graciosa, mas, é claro, que não veio num voo comercial, senão nem sequer cá chegava.
Avarias são normais e ninguém as quer, mas o que se passou na Graciosa é um caso que merece reflexão para quem dirige a companhia aérea regional, para que não se volte a repetir.
Segundo os dados do Flightradar24, na crise no transporte aéreo de sábado, tivemos ilhas sem perturbações de maior, como o Corvo, Flores, S. Jorge e Pico, outras com cancelamentos de uma ínfima parte dos seus voos, como a Terceira, S. Miguel e Faial e no caso de Santa Maria, dois cancelamentos em cinco voos. Na Graciosa verificámos três cancelamentos em quatro voos, o que deixou a ilha praticamente isolada, ainda para mais quando o único voo operado foi com a sua versão mais pequena.
Num caso destes existem preocupações especiais com os doentes, mas também com os passageiros com ligações, entre outros, por isso tinha sido de bom tom criar um plano de contingência e tentar dividir o problema pelas ilhas, para não transformar em caos um dia de verão apenas na Graciosa, muito embora reconheça que não é fácil alterar toda a programação.
Os passageiros que pretendiam viajar nesse dia tiveram de esperar 12, 24 ou mais horas para saírem desta ilha. O Presidente em apenas duas horas chegou, promoveu os produtos que achava que devia promover, e foi-se.
Quem lhe organizou a viagem - desconfio que foi o Presidente do Governo - teve o cuidado de o afastar da oposição. Assim, não houve o perigo de o senhor saber do estado em que se encontra a saúde na Graciosa, ou que o Governo liderado pelo seu cicerone, passado um ano, ainda não resolveu o problema da legionella na escola, ou o estado depauperado das estradas regionais, ou os problemas graves no setor das pescas que não se resolvem, ou ainda a teimosia em não cumprir com a resolução aprovada na Assembleia para terminar o projeto da Marina da Barra, só para dar alguns exemplos de questões que inquietam a população Graciosense.
A decência exige que os representantes eleitos sejam tratados como deve ser, sobretudo em momentos em que está em causa a representação oficial da ilha, como foi este momento com o mais alto magistrado da nação.
Convidar os membros da oposição para atos oficiais não é um favor, é uma obrigação democrática, mas parece que por aqui este modus operandi está a tornar-se um hábito e desconfio que será por estarmos perto de umas eleições.
Se assim é, não devia ser, até porque em democracia a única certeza que há para quem ganha é que um dia vai perder. E ao contrário também é verdade.