Opinião

Como dizer isto sem chamar mentiroso a ninguém?

"A demagogia é a corrupção da democracia,
assim como a tirania correspondia à corrupção da monarquia."
Aristóteles

É exatamente este o lado mais asqueroso da política. O de não se olhar a meios para atingir o exclusivo fim de conquistar o maior número de eleitores. A mentira banalizou-se ao mais alto nível, se necessário for. E fica assim mesmo.

Perante o preocupante desastre evidenciado pelo último relatório do Conselho Nacional de Educação sobre o "Estado da Educação 2021", primeiro ano pelo qual responde este governo regional no que toca aos resultados da nossa Região, propagandeia a senhora secretária regional da Educação e Assuntos Culturais com o bombástico título "a Educação nos Açores alcança os melhores resultados da última década". E como então encontrou esta secretaria regional uma porta de fuga, depois de há meses se ter desculpado dos muito maus resultados de 2020/21 com as consequências da pandemia: decidindo apagar do mapa estatístico o último ano da legislatura do PS Açores, o ano letivo 2019/20. Nada mais nada menos que o legado do governo anterior nesta área governativa. Efetivamente desistindo de justificar o injustificável, dado que as consequências negativas da pandemia verificadas no todo nacional  não encontram paralelo com o afundar dos resultados açorianos, apaga-se o melhor de sempre, pura e simplesmente, seja ele que ano letivo for. Chocante. E essencialmente chocante porque a todos tenta vendar os olhos enquanto levados a percorrer a estrada que alegremente nos vai levando ao desastre.

O efeito pandémico vem naturalmente piorar os resultados no todo nacional, efeitos no ano 2020/21, recorde-se, porém verdadeiramente preocupante é a inversão da tendência geral de aproximação (e até ultrapassagem) aos resultados nacionais para dar lugar a um profundo afastamento, a uma preocupante divergência do trabalho de melhoria verificado.

Vamos a factos:

O legado do governo PS no que toca à taxa de retenção e desistência no 1º ciclo do EB foi de 3% (2019/20). A média nacional era de 1,4%. Piorámos agora para os 4,7% (2020/21) e a média nacional para os 2,1%. A tendência de convergência (de 2018/19 para 2019/20) deu lugar à divergência (de 2019/20 para 2020/21), afastando-nos da média nacional em 1%, aumentando o fosso dos 1,6% para os 2,6%.

O legado do governo PS no que toca à taxa de retenção e desistência no 2º ciclo do EB foi de 1,9% (2019/20), tendo sido melhor do que a média nacional em 0,5%. A média nacional era de 2,4%. Piorámos agora para os 4,4% (2020/21) e a média nacional para os 3,3%. Na RAA a mesma taxa passou de melhor do que a média nacional para a pior nacional. A tendência de convergência e até ultrapassagem (de 2018/19 para 2019/20) deu lugar à divergência (de 2019/20 para 2020/21), afastando-nos da média nacional em 1,6%, aumentando o fosso dos 0,5% acima para os 1,1% abaixo.

O legado do governo PS no que toca à taxa de retenção e desistência no 3º ciclo do EB foi de 5,8% (2019/20). A média nacional era de 3%. Piorámos agora para os 9,9% (2020/21) e a média nacional para os 4,3%. A tendência de convergência (de 2018/19 para 2019/20) deu lugar à divergência (de 2019/20 para 2020/21), afastando-nos da média nacional em 2,8%, aumentando o fosso dos 2,8% para os 5,6%.

O legado do governo PS no que toca à taxa de retenção e desistência no ensino secundário foi de 12,2% (2019/20). A média nacional era de 8,5%. Piorámos agora para os 12,8% (2020/21) enquanto a média nacional melhorou para os 8,3%. A tendência de convergência (de 2018/19 para 2019/20) deu lugar à divergência (de 2019/20 para 2020/21), afastando-nos da média nacional em 0,8%, aumentando o fosso dos 3,7% para os 4,5%.

No que respeita ao abandono escolar precoce, saliente-se que o legado do governo PS é de 23,2%, resultante do trabalho do ano letivo 2019/20, o seu último de governação. O que se verifica agora é uma subida em 3,3%, sendo agora de 26,5% relativos ao ano letivo 2020/21, da responsabilidade do atual elenco governativo. Note-se que, comparativamente, a média nacional piorou os seus resultados em ano pós-pandémico em 0,1%.

A título de conclusão, a inversão dos resultados num ano pós-pandémico foi nacional, como o expectável, porém, e apesar de necessitarmos convergir, afastámo-nos, dado que a nossa quebra regional foi muito mais acentuada nos vários ciclos de ensino, para além ainda do facto de que no ensino secundário não acompanhamos a tendência de melhoria dos resultados.

E enquanto na república se trabalhou arduamente, se disponibilizaram 900 M€ e ao mais alto nível se apresentou um plano de recuperação das aprendizagens ("Plano 21/23 Escola +") para o período pós pandemia, na RAA ainda estou por descobrir que trabalho existe neste domínio, apesar da resolução da assembleia regional datada de maio de 2021 a recomendá-lo ao governo regional.