Opinião

Quem? Aluno? Porquê? Aprender? Como? Interesse?

Já muito foi dito e escrito sobre o assunto. Desde as mais profundas teses académicas à mais entusiástica e empírica teoria replicada, vezes sem conta, através da também mais popular rede social cibernética. Ainda assim, uma coisa é certa: na Educação não há fórmulas milagrosas a copiar, tenham elas nascido em Portugal, tenham elas nascido no Japão, Singapura, Finlândia ou Estónia. Há sempre referências essenciais, como é óbvio, porém, indispensável será saber ler as condicionantes da realidade de determinado país, região ou lugar. E, portanto, posto isto, eis que aqui vai mais um, apenas mais um pensamento sobre o tema. Vamos a isso.
Importa centrar a luta. Para um verdadeiro salto qualitativo de todos os parâmetros do nosso sistema educativo regional, a conciliação de pelo menos três vetores aparentemente antagónicos, porém, a meu ver, pura e simplesmente complementares, é incontornável. O primeiro e para a qual todos os restantes deverão confluir - o despertar do interesse nos alunos pelo saber, de todos os alunos, independentemente das estratégias que se pretendam usar. O segundo - o comprometimento motivado de todos os profissionais para com os seus objetivos, do presidente do governo ao funcionário da escola. O terceiro - a existência de condições de sucesso, também para todos, sejam elas físicas, sejam elas as que considero absolutamente essenciais: as sociais. É esta a lógica que me parece a chave, continuadamente induzida e nunca deliberadamente imposta. Depois, ou melhor dizendo, ainda antes, que não restem dúvidas de que o alvo é a aprendizagem do aluno, a sua real formação. Um foco claro e a nunca esquecer em momento algum do processo, da sala de aula ao serviço administrativo, da cantina ao recreio, da secretaria regional da Educação à secretaria regional das Finanças, do órgão executivo da escola ao encarregado de educação. O aluno, até disso poderá andar alheio, não será por aí, porém obrigatoriamente induzido do máximo interesse pelo saber, pelo conhecimento.

É então, a meu ver, precisamente esse o desafio, a maior exigência que ao sistema importa assacar. O despertar da vontade, no aluno, pela atividade de aprendizagem proposta, seja pelo simples gosto de a desenvolver, seja pelo desejo de saber algo que, a dada altura, sentiu necessidade real de aprender. No momento em que, no aluno, se desperta o desejo de saber fazer algo, não mais importa a métrica dos tempos letivos, não mais importa a disposição do mobiliário da sala de aula, não mais importa se é ou não ultrapassado o conceito de TPC, não mais importa se afinal toca ou não toca a campainha para o intervalo. Se um aluno do Jardim de Infância precisar de aprender a somar um número após o outro porque o entusiástico jogo de computador que conheceu implica essa aprendizagem para melhor ser jogado, rapidamente o aprenderá. Se ao aluno do primeiro ciclo de ensino se conseguir despoletar o clique por juntar as letrinhas, de modo a mostrar à família as suas novas façanhas, não demorará a interessar-se por desejar ler todos os contos guardados no interior dos livros da sua sala de aula. Se um aluno do segundo ciclo de ensino gostar muito de jogar com a bola de basquetebol, rapidamente desejará aprender todas as fintas, todas as regras do jogo, todos os princípios que garantam a melhor organização da sua equipa. Se num aluno do terceiro ciclo de ensino se despertar o gosto pelo uso dos reagentes químicos do laboratório, rapidamente será ele o primeiro a desejar conhecer toda e qualquer tabela periódica. Se ao aluno do ensino secundário se despertar o desejo de vir a ser professor, médico, artista, chef, mecânico ou agricultor e que, para tal, deseje dominar todas as demais vertentes do ofício, o abandono escolar precoce rapidamente se transformará num conceito obsoleto e ultrapassado.

Agora, para que esta chave abra mesmo as trancas da porta à aprendizagem, ninguém se poderá sentir alguma vez dispensado. Absolutamente ninguém. E ao Governo competirá organizar, ao Governo competirá traçar objetivos, ao Governo competirá colocar a máquina a trabalhar de modo obstinado, sim, repito, obstinado, ao Governo competirá garantir todas as condições para que o preciosíssimo interesse possa acontecer. E no que toca à aprendizagem, o foco, a mosca do alvo, aonde estamos e para onde vamos, afinal? Aonde se encontra no caminho, afinal de contas, a caranguejola?