Opinião

Risco de pobreza: dados de 2020

No passado mês de dezembro, o Instituto Nacional de Estatística divulgou os dados provisórios relativos ao Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2021 (com base em rendimentos de 2020) que confirmam as nossas expectativas.

No que respeita ao risco de pobreza, os Açores foram a região do País que, pelo segundo ano consecutivo, mais baixou esse indicador (- 6,6 p.p.), deixando de ser a região com a taxa mais alta (21,9%), agora com uma taxa inferior à da Madeira (24,2%).

Note-se que as regiões autónomas foram as únicas no país a reduzir a taxa de risco de pobreza, contrariando assim a tendência generalizada de aumento que se registou a nível nacional (+ 2,2 p.p. do que em 2019).

Note-se ainda que este dado relativo a 2020 permite também perceber uma tendência de redução, que acumulada com a já registada em 2019, atinge no caso dos Açores quase 10 p.p. em dois anos.

No que à desigualdade diz respeito os Açores foram a única Região do País que baixou esse indicador (-1,5 p.p.), e pese embora ainda acima da média nacional, muito mais próximo desta e já abaixo da região centro.

Acreditamos que a convergência dos Açores para as médias nacionais em matéria de risco de pobreza e desigualdade refletem a melhoria das condições de vida das nossas famílias nos Açores, sendo por isso indispensável que o Governo avance com a “revisitação” desta estratégia não vacilando numa abordagem e numa solução que assegure os resultados que todos ambicionamos.

Releva positivamente para a continuidade da implementação da Estratégia Regional de Combate à Pobreza e Exclusão Social 2018-2028 a oportunidade que representa o Programa de Recuperação e Resiliência disponibilizando recursos financeiros muito significativos em áreas estratégicas como o combate à pobreza, a educação digital, a qualificação de adultos, mas também a habitação (mais de 160 milhões de euros).

É evidente que é imperioso continuar esse esforço de promoção da inclusão por via do emprego seguro e bem remunerado. É também evidente que quebrar ciclos de pobreza implica investir na educação e saúde das nossas crianças.

Importa não esquecer que os resultados alcançados em 2020 e agora conhecidos são sobretudo o resultado do trabalho de muitos homens e mulheres que nos Açores, longe dos holofotes, lutaram e continuam a lutar diariamente pela inclusão social e para quebrar ciclos de pobreza persistente.

Trazer estes dados é sobretudo reconhecer um trajeto e valorizar centenas de profissionais que para isso contribuíram, evitando exaltações desmedidas em relação aos dados agora conhecidos.

As reduções registadas devem servir de incentivo, mas não são um fim em si mesmas. Não podemos vacilar. Não podemos baixar a guarda. O contexto pandémico que vivemos é potenciador da inversão desta tendência e os dados relativos ao último trimestre de 2020 do aumento desemprego nos Açores são preocupantes. Estejamos, por isso, atentos e atuantes.