Opinião

Três notas qual delas a mais desafinada...

1 No passado sábado, 16 de outubro, assinalou-se o Dia Mundial da Alimentação.
É um dia que surge como um apelo à erradicação da fome, na defesa de um mundo em que os alimentos nutritivos estejam disponíveis e sejam acessíveis a todos.
Num momento em que todo o mundo desperdiça mais de mil milhões de toneladas de alimentos por ano, assistimos a desigualdades gritantes entre países e populações, em que uns pouco ou nada têm e outros, que tendo, desperdiçam ou consomem erradamente.
Na Região, tal como no resto do País, o excesso de peso e a obesidade são problemas de saúde crónicos.
Dados recentemente divulgados apontam para que cerca de dois terços da população adulta portuguesa (67,6%) apresentam excesso de peso ou obesidade, sendo que a prevalência de obesidade é de 28,7%.
O estudo intitulado "O Custo e a Carga do Excesso de Peso e de Obesidade em Portugal" levado a cabo pela Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade com o apoio da Novo Nordisk Portugal refere que "o custo do tratamento destas doenças é 88 vezes superior ao custo do tratamento da obesidade "per se", que ultrapassa os 13 milhões de euros anuais".
Segundo um estudo elaborado pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, "o custo direto do excesso de peso e obesidade foi estimado em cerca de 1,2 mil milhões de euros, aproximadamente 0,5% do PIB e 6% das despesas de saúde em Portugal".
Para estes custos diretos em saúde as doenças relacionadas com a obesidade que mais contribuem são a diabetes, o acidente vascular cerebral, a doença cardíaca isquémica e a doença renal crónica.
Num momento em que a Pandemia provocada pela COVID-19 despertou algumas consciências para a saúde pública, a obesidade e o excesso de peso devem possuir maior atenção por parte de quem nos governa pelo facto de estarmos a falar de uma problemática que, segundo os referidos estudos, retira nove dias de vida por ano a cada português adulto...
Ao passo que nos últimos anos o trabalho realizado permitiu que, por exemplo, no que concerne ao excesso de peso e obesidade infantil, entre 2008 e 2019 o decréscimo mais acentuado na prevalência de excesso de peso (incluindo obesidade) se registasse na Região (com uma diminuição de 46,6% em 2008 para 35,9% em 2019), atualmente não se regista qualquer política relativamente a esta matéria, com a agravante de que na execução do Plano de Investimentos apresentada pelo Governo Regional a taxa de execução dos 1.240.438 euros destinados à promoção de estilos de vida saudável se cifra nuns míseros 9,1%...
Se é possível fazer mais e melhor então não se está a fazer.
2 O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) terá mais 117 milhões de euros, para além dos 580 já conhecidos, que supostamente até 2025 irão chegar à Região através de Agendas Mobilizadoras para os setores do Turismo, Economia do Mar e Agroindustrial.
Aberto um concurso até 30 de setembro para a canalização dessa verba, o mesmo não contou com a participação dos hospitais regionais.
Sem qualquer critério objetivo, transparente, os três hospitais regionais não foram tidos nem achados nas Agendas Mobilizadoras do PRR.
Para além de o Governo entender que só 30 empresas é que são competentes e capazes, menosprezando, por completo, as restantes cerca de 4500 empresas regionais, fez o mesmo com os hospitais regionais favorecendo o único hospital privado da Região sediado na ilha de São Miguel.
No caso do Turismo, com 75 milhões de euros ao dispor, a entidade que irá liderar a respetiva agenda será a Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada em que a partir da candidatura entregue, num documento elaborado por uma consultora externa (KPMG), a referida agenda será composta por cinco produtos estratégicos: Saúde e Bem-Estar, Turismo Aventura, Turismo Náutico, Turismo Histórico-Cultural e Nomadismo Digital.
Depois do investimento realizado nos hospitais da Região, nomeadamente no Hospital de Ponta Delgada, com uma acreditação internacional obtida desde 2007, o Governo Regional ignorou por completo todo o conhecimento, experiência e expectativa dessas instituições e dos seus profissionais e será o Hospital Internacional dos Açores, o único hospital privado da Região (inaugurado há meses) que com a Direção Regional do Turismo e o INOVA terão ao seu dispor 8 milhões de euros para desenvolverem um projeto diferenciado.
Tudo isto com o alto patrocínio e aval do Conselho do Governo liderado pelo seu Presidente, José Manuel Bolieiro, que aprovou, em agosto, o modelo de governação do PRR.
3 A ausência do Presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro, na sessão plenária de ontem durante o debate de urgência sobre a implementação do PRR apresentado pelo Grupo Parlamentar do PS, para além de injustificada, é inaceitável.
Inaceitável.
Já durante o calor do combate à Pandemia, enquanto o responsável da tutela se preocupava mais com a liderança do PSD Terceira, ninguém sabia de José Manuel Bolieiro.
Em raras aparições fazia-o para dizer que "estava tudo controlado"...
Andou-se à deriva e pagamos, ainda hoje, essa fatura.
Agora, no debate sobre as Agendas Mobilizadoras, em que se esperariam explicações por parte do Governo, liderados pelo Presidente do Governo, este último, inacreditavelmente, não apareceu.
José Manuel Bolieiro não tem mão no Governo.
José Manuel Bolieiro foge, vergonhosamente, à sua responsabilidade.
Como cidadão eleitor, independentemente da política, considero tal atitude e comportamento inaceitável.