Opinião

Exigir dos outros o que não exige a si próprio

As expetativas eram altas. Muito superiores àquilo que o Plano e Orçamento da Região Autónoma dos Açores para 2021 (PO2021) do Governo do PSD/Açores representa para a ilha do Faial, nomeadamente no que concerne a investimentos estruturantes, como a segunda fase da variante e a ampliação da pista. Esperava-se diferente de quem, na oposição, ano, após ano, cavalgou um discurso de que faria efetivamente diferente se estivesse no Governo. Mas isso não aconteceu.

No caso da segunda fase da variante à cidade da Horta, o PSD/Açores, na oposição, e na campanha eleitoral, autointitulou-se, com o habitual recurso à demagogia, claro está, como o único partido habilitado para concretizar este tão importante investimento, proclamando, não raras vezes, que a não concretização desta obra devia-se à falta de vontade política do Governo do PS e que a ausência de verbas no atual quadro comunitário para a rede viária não poderia ser utilizada como argumento para a não concretização do projeto. Ou seja, para o PSD/Açores, esta obra devia ser realizada com recurso exclusivo a fundos próprios da Região, se assim tivesse de ser. Mas, pasme-se, que ao passar da oposição para o Governo, e entregue o PO2021 na ALRAA, nem um euro à variante dedicado. Tal facto torna-se ainda mais surpreendente quando estão já previstas verbas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que está a ser negociado com o Governo da República, para avançar com esta obra. Agora, que é previsível o Governo Regional começar a receber, já este ano, 60 milhões de euros da União Europeia só para a rede viária regional, o executivo açoriano, incompreensivelmente, não acautele a segunda fase da variante no Plano e Orçamento, inviabilizando o início da sua execução em 2021. Para termos uma comparação, os Governos dos Açores tiveram à sua disposição, no atual quadro comunitário de apoio (2014-2020), apenas 16 milhões de euros para investimentos na rede viária de toda a Região. Ora, com o PRR da União Europeia, são 60 milhões que têm de ser executados, pelos Açores, em apenas 5 anos, mais precisamente até ao final de 2026. O reduzido prazo para operacionalizar e executar estas volumosas verbas devia ser mais um motivo para este investimento estar já previsto no PO2021. Ademais, no Plano do Governo Regional, foi criada uma ação designada por “Execução do Plano de Recuperação e Resiliência” com verbas alocadas para execução de algumas estradas nos Açores, mas nenhuma delas é a segunda fase da variante à cidade da Horta. Afinal, onde está a tão proclamada vontade política, que diziam antes faltar, para implementar os projetos estruturantes para o desenvolvimento do Faial? Espera-se que, nesta circunstância, o Governo não se perca em tacticismos e aproveite esta oportunidade de ouro para resolver já esta questão.

Aeroporto da Horta. Recorde-se que o PSD/Açores, pela voz dos seus anteriores e atuais deputados eleitos pelo Faial, criticava a insuficiência das palavras dedicadas ao Aeroporto da Horta no anterior programa de Governo porque relevavam para a falta de vontade política do Governo dos Açores em resolver o assunto. Mas agora que é Governo, e contrapondo até com referências exaustivas a outros Aeroportos da Região, nem uma única palavra, nem no Programa de Governo, nem nas Orientações de Médio Prazo, nem no próprio orçamento.

O que fica evidenciado é que o PSD/Açores é fugaz a exigir dos outros o que não exige a si próprio e que a tão proclamada “vontade política” não passou disso mesmo… de proclamações.