Opinião

Relaxar rima com confinar

Foi bonita a festa, pá! Esta era a “opção b” para o título desta crónica. Em ambas há um denominador comum que dá pelo nome de inconsciência. Do cidadão que organizou um “copo rápido lá em casa com malta fixe” ao mais alto magistrado da nação que decidiu partilhar a agenda privada de almoços e jantares de natal e final de ano. Se é verdade afirmar que uma grande parte da população, e ainda bem, sempre pautou a sua conduta pelo cumprimento escrupuloso de todas as regras e, principalmente, por elevados padrões de bom senso e respeito por si e pelo próximo. Não menos verdade é também afirmar que houve, desde início, uma reduzida faixa da população que sempre teve uma visão e postura reveladora de pouco respeito pela pandemia. Sempre, à lá Bolsonaro, viram tudo isto como uma “gripezinha”. Nunca sequer ligaram aos efeitos nefastos, para a sua própria saúde e dos seus familiares, associados ao vírus. A atitude de gozo e desafio permanente foi sempre uma constante. No meio destes 2 grupos distintos, encontram-se os responsáveis políticos pela gestão pública da sociedade. Nestes, também houve atitudes e ações díspares. Não nos esqueçamos, por exemplo, que os mais recentes estados de emergência têm sido aprovados apenas com os votos favoráveis do PS e PSD na Assembleia da República. Ora, tal facto, independentemente das razões inerentes ao respetivo sentido de voto, significa, a título objetivo, que os demais partidos nem viam com bons olhos esta ferramenta excecional. Acontece que a realidade vai fazer que muitos desses partidos queiram agora, quase na 25.º hora e quando urge tomar medidas, aparecer do lado da solução. À data que escrevo, e por falar em solução, ainda não ocorreu a reunião de especialistas no INFARMED. Mas, e estando longe de ser especialista em epidemiologia e afins, parece óbvio que as circunstâncias impõem medidas urgentes e robustas. A nível nacional, os números diários de novos casos registados nos últimos dias, os quais têm rondado quase sempre os 10 mil, aliado ao número de óbitos que infelizmente parecem consolidar-se acima de 100 nos últimos dias e, principalmente, ao preocupante aumento diário de internamentos (enfermaria e cuidados intensivos), exigem medidas e respostas… para ontem! De igual modo, nos Açores, temos assistido a um crescimento galopante de casos diários. O quadro referente à situação epidemiológica constata, infelizmente, a existência de transmissão comunitária nas ilhas de São Miguel e Terceira. O foco da pandemia está, pela densidade populacional e maior abertura ao exterior, centrado em São Miguel. Acontece que nos últimos tempos a pandemia, por cá, ganhou contornos de extrema complexidade. Atente-se nos seguintes dados registados entre 22 de dezembro e 5 de janeiro: o número de casos na ilha de São Miguel cresceu 45%; no concelho de Ponta Delgada, o número de casos positivos cresceu 118%; no concelho de Vila Franca do Campo, cresceu 154%; no concelho da Lagoa cresceu 148%; e aumentou o número de internamentos derivados da COVID-19. Exigem-se, por isso, medidas. Respostas concretas. E, acima de tudo, muita coragem e sentido de responsabilidade para decidir cá e não ficar à espera do que vier de lá! Para tal, seria importante descobrir-se, rapidamente, o paradeiro do Presidente do Governo Regional. Esta opção pelo confinamento silencioso e estratégico não surpreende, mas tem implícita um grande risco…. É que um fraco “rei”…