Opinião

O Balanço do Ano

As eleições Regionais e a Gerigonça “É Gerigonça mas funciona!” Foi esta a frase que o Primeiro-Ministro António Costa utilizou para caracterizar o funcionamento da solução governativa atual, que inclui um governo do Partido Socialista e o apoio parlamentar do Partido Comunista Português, do Bloco de Esquerda e do Partido Ecologista “os Verdes.” Não só esta solução se mostrou sólida na governação e no parlamento, tendo sido, inclusive, aprovados dois Orçamentos do Estado, como os resultados da governação de esquerda permitiram repor os rendimentos às famílias e às empresas, negociar efetivamente - pasme-se que afinal é possível!- com Bruxelas, diminuir o défice das contas públicas, como também, obter o maior crescimento da economia portuguesa dos últimos anos. Não, não veio o “diabo” nem o “país faliu”, como afirmou Passos Coelho, assim como se percebeu que afinal havia outro caminho de desenvolvimento para Portugal para além da “austeridade”. Eleições Regionais Que dizer de um partido político que obtém a sua sexta vitória em eleições regionais? Alguns certamente dirão - exercendo muito bem o seu direito democrático à oposição – que este partido se enraizou na sociedade açoriana de tal forma que não permite a alternância democrática. Mas eu não vejo as coisas assim. O PS, nos Açores, não se limitou a ganhar seis eleições Regionais. Em seis, cinco foram obtidas com maiorias absolutas, onde a pluralidade parlamentar aumentou e o escrutínio dacomunicação social foi cada vez mais apertado. Com as reformas socialistas do sistema político Açoriano, no Parlamento, a representação passou de, em média, 3 forças políticas, para seis, a proporcionalidade da representação foi melhorada e a limitação de mandatos do Presidente do Governo Regional foi finalmente estabelecida. Neste cenário, o renovar da confiança a um partido político ou a um Presidente de Governo é cada vez mais difícil e obriga a uma permanente renovação de políticas. O facto de o PS estar há tanto tempo na governação dá mais valor à vitória de Vasco Cordeiro, pois não só traz a incumbência da permanente renovação da propositura programática, como a necessária coragem política de dizer que há políticas do passado que deixaram de fazer sentido realizar. É neste equilíbrio entre o passado e o futuro que Vasco Cordeiro foi mestre e que permitiu o renovar do voto de confiança dos Açorianos. A “pós-verdade” Um aparente palavrão que foi eleito como palavra do ano, mas que tem um significado muito simples, com causas muito complexas: “Circunstâncias em que os factos objetivos têm menos influência na formação da opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais”. Arrisco-me a dizer que, em certos casos, por muito esforço que façamos em transmitir os factos, em dar a explicação demorada e real, a impaciência, a crescente insatisfação e a desconfiança face ao poder estabelecido (inclui “os média”) e a opinião pessoal do recetor não permite a reposição da verdade. O estimado leitor, provavelmente, estará a lembrar-se com razão das eleições americanas, onde as chamadas “fake news” - alimentadas pela ascensão de fontes de informação sem verificação, como sejam as redes sociais – provocaram a vitória de Trump ou do “Brexit”, onde um conjunto de inverdades sobre as comunidades estrangeiras dominaram as eleições… Mas o fenómeno não corresponde a uma relação simplificada entre a política e a mentira, é muito mais complexo do que isto. Revela a fraqueza de todas as nossas instituições políticas e da sociedade civil em ir contra - mesmo quando a verdade o justifique e obrigue - à “manada” da opinião pública manipulada. Para as instituições “fracas” a “opinião pública” passou a ter sempre razão, para os média, ser bom, não é necessariamente dizer melhor a verdade, mas dizer primeiro o que corresponde à expectativa do espectador mesmo que assente em meio facto ou meia mentira e para o espectador, a popularidade do interveniente é garante de confiança. Este fenómeno não é longínquo, está perto, deparamo-nos com ele no dia-a-dia. Como explicar à opinião pública, no Faial, de que serão servidos, no próximo ano, por mais voos da Azores Airlines, se a contrainformação assente em notícias e vídeos falsos apela a um sentimento de bairrismo de Faial vs São Miguel. Por muito que expliquemos, demoradamente com factos, a insatisfação, a impaciência e a convicção pessoal da maior parte dos que constituem a opinião pública, simplesmente, não permitem a mudança de opinião. Como devem as democracias, em 2017, combater este fenómeno? Não há outra solução a não ser a credibilização das instituições e não desistir de afirmar sempre a verdade.