Opinião

A República trilha um caminho perigoso

“Grândola Vila Morena”, do saudoso e malogrado Zeca Afonso ressuscitou concomitantemente com o abrir de olhos do povo português, denunciando que algo está efetivamente podre no Reino de Portugal. Em apenas dois dias o Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, conseguiu ser apupado e ouviu do Povo a música de Abril. Numa dessas ocasiões até trauteou o refrão da canção: tudo o que sabia. O Ministro da Saúde, Paulo Macedo, também foi agraciado com tal brinde. Tal já havia acontecido em plena Assembleia da República com o Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho. Todas estas manifestações resultam da obstinação deste Governo PSD-CDS/PP pela austeridade que espartilha a vida dos cidadãos portugueses, a riqueza do nosso país. Paralelamente a isso, assisto ao caminhar do país numa direção que em nada nos deve orgulhar. Em pouco menos de dois anos, este Governo da República tem vindo a desmantelar o Estado Social e a implementar o “Estado Pidesco”. Enquanto fechava escolas e serviços de saúde, o Executivo de Passos Coelho aprovava o OE2013, com uma particular medida de combate à evasão fiscal que até é uma tentativa de contender o problema: a recuperação de 5% do Iva despendido em cabeleireiros, oficinas mecânicas, alojamentos e restauração. A medida peca apenas pelos valores irrisórios a reaver pelos contribuintes mas sempre me fez “comichão” por colocar os portugueses a policiarem-se uns aos outros, de borla, para o Estado. Mas o pior ainda estava para vir. Então não é que o Conselho de Ministros aprova a emissão de multas entre 75 a 2.000€ para quem não solicitar fatura? A ação dos governantes foi tão eficaz que surpreendeu até a Autoridade Tributária que já veio a público anunciar que não tem nem meios nem estatuto legal para fiscalizar os cidadãos. Nos Açores, o Presidente do Grupo Parlamentar do PS/A, Berto Messias, encara com apreensão as novas regras de faturação e alerta a potencial excessiva burocratização, ainda que o Governo Regional se veja nesta matéria forçado a cumprir a legislação nacional. Outra notícia que também me chocou profundamente foi a identificação pela PSP dos cantores de Grândola Vila Morena. Mas a que título? Com que direito? Não foram apresentadas queixas, mas os cantores estão identificados. Seguindo os conselhos do Primeiro-Ministro, os jovens – qualificados ou não– estão a fugir em debandada para outras paragens. Tudo isto contribuirá para um perfil muito diferente do nosso país, nos próximos anos. Um país mais envelhecido, mais desempregado, mais falido, com taxas de criminalidade mais elevadas, afogado em impostos. E quem sabe, com proibição de ajuntamentos superiores a três indivíduos, impostos sobre isqueiros e acendedores, com reforço das secretas e pendendo um lápis azul sobre a imprensa? É que não gosto mesmo nada disto.