Opinião

O nervosismo do PSD/Açores

Desde há muito que o PSD/Açores vivia suspenso na decisão de Carlos César. Há uns meses atrás, resolveu espalhar pelas ilhas cartazes com a afirmação do líder do PS, em que este afirmava ser o autor da proposta para a redução dos mandatos do Presidente do Governo Regional e que não tornava a candidatar-se. Com esta iniciativa, o PSD lançava a provocação, pensando que daí adviriam dividendos. Se o actual presidente se recandidatasse, não deixaria de o fustigar com os mais veementes impropérios; caso não o fizesse, imaginou uma vitória fácil, por analogia com o que se havia passado com a fuga de Mota Amaral. Toda a estratégia saiu furada e, por isso, aumentou o nervosismo nas hostes. A decisão de Carlos César em cumprir a sua palavra foi elogiada por comentaristas das mais diversas áreas políticas e isso engrandeceu ainda mais o seu crédito político, o do PS/Açores e, por tabela, o bom nome da Região. A rápida decisão em apresentar um novo candidato, Vasco Cordeiro, aprovado por unanimidade pelas várias instâncias partidárias, e por proposta de outros dois putativos candidatos, Sérgio Ávila e José Contente, deitou por terra as esperanças de que o PS se iria esfrangalhar em lutas internas. Carlos César irá permanecer à frente do governo até às próximas eleições, o que desde logo torna a situação incomparável com a protagonizada Mota Amaral; Vasco Cordeiro surge como um candidato jovem e maduro, com um percurso político reconhecido e reputado, por oposição à líder do PSD, Berta Cabral, que se esgotou há muito em termos políticos; finalmente, o PS não tem feridas para lamber e está em pleno vigor para prosseguir o caminho que tem vindo a calcorrear em defesa do progresso e bem-estar dos açorianos. Perante todos estes factos, as fragilidades do PSD/A ficaram mais evidentes e começaram já a transparecer os descontentamentos internos. Em primeiro lugar, tem sido notório ao longo destes anos que Berta Cabral não é encarada como uma dirigente de cunho regional. Continua a ser a presidente da Câmara de Ponta Delgada e, mesmo assim, sem o apoio de uma boa parte dos seus munícipes. Um segundo obstáculo reside na falta de elementos credíveis para constituir governo. Olhando para os dirigentes e outros membros do PSD, torna-se difícil vislumbrar gente com perfil para gerir os destinos da Região. Os açorianos têm perfeita consciência desse facto e não vão trocar o seguro pelo incerto. Outro factor que deixa o PSD/A embaraçado é a política de austeridade desequilibrada, seguida pelo governo de Passos Coelho. Exigir sacrifícios para além do que vem no acordo da troika, castigando sempre os mesmos, começa a provocar descontentamentos e reacções críticas mais que justas. Finalmente, a sabedoria popular também funciona contra os desígnios do PSD, quando há um ditado que diz que não se colocam os ovos todos no mesmo cesto: um Presidente da República (PSD) que, para além das alucinações que teve na Graciosa, tem tomado posições pouco imparciais e investidas anti-autonomistas; um governo PSD/CDS com medidas injustas e atitudes contra os Açores ao retirar as receitas da sobretaxa a aplicar ao subsídio de Natal que por direito pertencem à região; finalmente, uma região autónoma (Madeira) governada por um social-democrata que deixou a região de pantanas. Bem sabemos que o país precisa de vitamina C, mas se for plantado mais um laranjal nos Açores, aumenta o risco de morrermos da cura e não da doença. Como afirmou Vasco Cordeiro, “os Açores têm grandes desafios pela frente”. O Partido Socialista mantém-se unido e coeso e parte em vantagem para o próximo acto eleitoral, com condições para continuar a cativar a adesão dos açorianos às políticas que tem desenvolvido. Por todos estes factos se compreende o nervosismo e o desânimo do PSD.