Coligação de Governo quer retrocesso de 24 anos no transporte marítimo de passageiros e viaturas no arquipélago

PS Açores - 12 de agosto, 2021

Francisco César, que falava em nome do PS/Açores, condenou, esta quinta-feira, o retrocesso de mais de 24 anos que a coligação de Governo quer impor na Região, ao isolar, durante os próximos dois ou três anos, as ilhas de São Miguel, Santa Maria e das Flores, das ligações marítimas sazonais de passageiros e viaturas, bem como nas ligações às restantes ilhas do arquipélago.

A decisão agora anunciada, surge sem que tenham sido consultados os parceiros e entidades que pudessem comentar ou até contestar este retrocesso, nomeadamente “os municípios, os Conselhos de Ilha e os empresários”, o que é grave, por si só, e revela “a fraqueza da argumentação que envolve esta decisão, e pelas consequências do modelo que fica”.

Desde logo, e para o Partido Socialista, a afirmação de que a tarifa Açores e a SATA podem substituir  esta operação é já reveladora da falta de conhecimento deste governo quanto à realidade açoriana, porque, “não só a SATA não tem capacidade para satisfazer a procura do número de passageiros, e que os transportes marítimos, de uma forma sazonal e complementar, poderiam resolver”, mas também porque a companhia “não tem a capacidade para fornecer o transporte de viaturas e muito menos ajudar aquilo que era o transporte de carga rodada que a Atlânticoline acabava por transportar”.

Mas o PS/Açores considera ainda falso o argumento de que quer a pandemia quer o furacão Lorenzo possam implicar a não implementação de um modelo que abranja todas as ilhas, nomeadamente na ilha das Flores.

Em primeiro lugar, por considerar que a questão da pandemia é circunstancial, e que “sendo um concurso, para dois ou três anos, se deve projetar um futuro exatamente sem pandemia”, mas, também, por estar previsto para o próximo ano “a conclusão da ponte cais das Flores e a rampa Ró-ró até ao verão”, investimentos cujo calendário das obras adjudicadas pelo Governo Regional do PS “foi exatamente pensado para a retoma do transporte de mercadorias, nomeadamente o transporte sazonal de mercadorias e passageiros para o grupo ocidental”.

O PS/Açores manifesta ainda a sua preocupação com a possibilidade de o Governo vir a realizar a operação marítima de passageiros e viaturas no Grupo Central, apenas com a frota permanente da Atlânticoline, o que, a ser verdade, “implicará uma diminuição da qualidade do serviço para os passageiros e da capacidade de transporte de viaturas, porque a operação implicará, necessariamente, utilizar os velhos cruzeiros para ser possível implementá-la”.

“Assim se percebe que o modelo de um passado já há muito ultrapassado, com mais de 24 anos, que se pretende retomar acaba por não servir ninguém, aliás, até prejudica a Região, numa altura em que precisamos de preparar a nossa economia, as nossas empresas, e de ter todas os instrumentos ao nosso dispor para iniciar a retoma, e, uma decisão que congele os próximos dois ou três anos é um passo muito perigoso e que irá ser um entrave ao desenvolvimento económico da nossa Região”, afirmou Francisco César, membro do Secretariado Regional do PS/Açores.

Para além disso, esta decisão tem outros motivos que preocupam, o preconceito de que o transporte marítimo sazonal de passageiros e carga não é fundamental para o desenvolvimento da Região e que a mobilidade inter-ilhas deve ser realizada predominantemente por avião, um modelo do passado e no qual o Partido Socialista não se revê.

Com esta decisão, e para além de a Região seguir um caminho contrário ao da União Europeia, que tem trabalhado no sentido de diminuir a pegada ambiental e incentivar o transporte de grande capacidade de passageiros, o PS/Açores destaca ainda ser mais um profundo e violento golpe na coesão regional.

“Com esta decisão, este governo, que tanto fala em coesão regional, em promover o desenvolvimento de todas as nossas ilhas, está a dar mais um passo significativo exatamente no sentido contrário ao que refere na sua propaganda, porque contraria o desenvolvimento económico, prejudica a criação de um mercado interno e prejudica a mobilidade dos residentes e turistas no arquipélago”, assegurou Francisco César, em nome do Partido Socialista dos Açores.