Os últimos números sobre o acesso ao ensino superior são um sinal de alarme. Em Portugal, as entradas caíram mais de 12%. Nos Açores, a situação é ainda mais grave: a Universidade dos Açores registou uma quebra superior a 26%. Estes dados não são apenas estatística: revelam fragilidades estruturais que ameaçam o futuro da Região.
Quando menos jovens entram na universidade, não são apenas “menos alunos”. São, sobretudo, os mais vulneráveis que ficam de fora: os primeiros das suas famílias a sonhar com um diploma, aqueles que, sem bolsas ou apoios adequados, veem as portas fechar-se. Cada vez que isso acontece, perpetuam-se ciclos de pobreza e exclusão.
A Federação das Associações de Pais e Encarregados de Educação dos Açores (FAPA) não se mostra surpreendida. Recorda mudanças legislativas sucessivas, sem visão futura, e as marcas da pandemia, nunca devidamente recuperadas. Lembra ainda professores não profissionalizados em disciplinas nucleares, como português, e a injustiça de um sistema que valoriza em excesso os exames nacionais.
Perante este cenário, a Secretária Regional da Educação reconhece a gravidade do problema, mas remete soluções para Lisboa e para a demografia. Fala em avaliar a oferta de cursos, mas essa leitura, ainda que parcialmente verdadeira, escapa ao essencial: o desafio não se resolve com estatísticas nem com transferências de responsabilidade. Cabe ao Governo Regional assumir a linha da frente, preparar respostas e criar condições para que os jovens açorianos não fiquem para trás.
É aqui que a Universidade dos Açores deve ser valorizada e potenciada. Não é apenas um centro de ensino: é a principal instituição de mobilidade social, de produção de conhecimento e de fixação de talento. Mas atribuir-lhe mais dinheiro sem linhas estratégicas articuladas com a universidade e com os parceiros sociais, reduz o retorno. O exemplo dos cursos ligados ao mar é revelador: enquanto o Presidente do Governo Regional proclama o Mar dos Açores, a realidade é que “Ciências dos Oceanos” abriu este ano com apenas dois alunos. O discurso não bate certo com as políticas, essa incoerência mina o futuro. A isto junta-se uma dúvida: até que ponto as alterações recentes no ensino profissional, feitas sem uma visão integrada, não estarão também a contribuir para o afastamento dos jovens do ensino superior?
Ou assumimos este desígnio coletivo agora, com estratégia e visão de futuro, ou condenamos os Açores a ser menos qualificados e mais desiguais. Está em causa o futuro dos jovens, mas também o de todos nós.