Opinião

Habitação no Faial: Memória, Verdade e Compromisso com o Futuro

Assinalou-se no passado dia 09 de julho o 27.o aniversário do sismo de 1998, uma data que marcou de forma profunda a história recente da ilha do Faial. A tragédia que abalou famílias, destruiu lares e desfigurou a nossa ilha é, ainda hoje, uma ferida na memória coletiva. No entanto, mais do que dor, este momento tornou-se símbolo de resiliência e de reconstrução exemplar, fruto de um esforço coletivo que deve ser lembrado com justiça e responsabilidade.

Foram investidos mais de 300 milhões de euros em reconstrução urbana, habitação, património religioso e equipamentos públicos. Este foi, sem margem para dúvidas, um dos maiores esforços de reabilitação urbana da história dos Açores — e de Portugal. Negar esta realidade, como fazem algumas vozes em contexto político ao afirmar que "nada foi feito em matéria de habitação" nas últimas décadas no Faial, é não apenas impreciso, mas profundamente injusto. É um esquecimento deliberado da história e do esforço de milhares de faialenses e dirigentes públicos que estiveram à altura da crise.

Hoje, a questão da habitação volta a ocupar o centro das atenções, embora em moldes diferentes. O Faial enfrenta novos desafios, como a pressão do turismo sobre o mercado imobiliário e a redução da população residente. Estes são fenómenos recentes e globais, que exigem novas respostas, mas não podem ser confundidos com os problemas estruturais do passado. É errado e desonesto atribuir a quem reconstruiu a ilha após o sismo a responsabilidade por dinâmicas que só agora ganham forma e intensidade.

Há que admitir que a reconstrução do Faial foi um exemplo de sucesso, de cooperação e de liderança. Esquecer isso é faltar ao respeito à história e aos faialenses.

A política exige memória, responsabilidade e sentido de justiça. Exige-se um compromisso dos dirigentes políticos em garantir, a todos, uma habitação digna, acessível e adaptada aos desafios contemporâneos — com a mesma seriedade com que, no passado, se coordenou a reconstrução de uma ilha ferida, mas nunca vencida.

Devemos sentir orgulho desse legado. Mas, mais importante do que olhar para o passado, é reafirmar o compromisso com o futuro e, sobretudo, com aqueles que vivem em situação de carência habitacional.

Perante uma nova crise habitacional, é urgente recordar o espírito de 1998.

A Estratégia Local de Habitação representa uma oportunidade para garantir que todos tenham acesso a uma casa condigna. Mas como no passado, mais do que planos e documentos, o que importa é a capacidade de concretizar. Se a reconstrução pós-sismo foi possível num tempo de emergência, também agora deve ser possível dar respostas céleres e eficazes às famílias que vivem em carência habitacional. O passado recente do Faial prova que, com vontade política e compromisso social, é possível transformar crise em oportunidade. Que o exemplo da reconstrução nos inspire novamente, para que ninguém fique sem teto, por falta de ação.

A habitação é um direito constitucional e um pilar da dignidade humana.

Tratar este problema com a urgência e seriedade que merece não é uma opção política — é um dever público.