Fraternidade. A palavra vem do latim fraternitas, derivada de frater, que significa irmão. Na sua origem mais simples, remete para a ideia de pertença, de laço humano, de reconhecimento do outro como alguém que me é próximo, mesmo sem laços de sangue. Não é um conceito abstrato, é uma atitude, uma forma de estar no mundo. Ainda assim, raramente a empregamos talvez porque, mais do que dizê-la, ela exige ser vivida.
Vivemos tempos diferentes, marcados pela pressa, pela eficácia e pela obsessão com objetivos. Tudo tem de servir um propósito imediato, a carreira, as relações, as opiniões. Até o modo como olhamos o próximo parece condicionado por aquilo que ele nos pode dar ou retirar. Nesta lógica, a fraternidade torna-se incómoda, porque não se mede em resultados, não gera lucro e não cabe facilmente em estratégias.
Na política, este afastamento é ainda mais visível. Parecemos viver de costas voltadas uns para os outros, presos a narrativas do passado ou a jogos de poder onde “vale tudo”. O diálogo é substituído pelo ataque, a escuta pela acusação. Cada lado se convence de que detém a razão absoluta, enquanto o outro é visto apenas pelos seus defeitos. Neste ambiente, a fraternidade soa quase ingénua, quando na verdade é profundamente exigente.
Mas este problema não se limita às esferas públicas. No quotidiano, falta-nos empatia. Falta-nos a capacidade de parar e reconhecer o outro na sua fragilidade, na sua história, nas suas circunstâncias. É mais fácil apontar erros do que estender a mão, mais confortável julgar do que compreender. A amizade, o respeito e a consideração pelo próximo vão sendo substituídos por desconfiança e indiferença.
Talvez porque seja mais simples ver os defeitos nos outros do que confrontar os nossos próprios. A fraternidade começa precisamente aí, no reconhecimento de que não somos melhores, apenas humanos. Que erramos, que falhamos, que precisamos uns dos outros mais do que gostamos de admitir.
É por isso que a quadra do Natal continua a ter um significado especial, mesmo num mundo cada vez mais secular e apressado. O Natal convida à pausa, à reflexão e ao reencontro com o essencial. Recorda-nos a humildade, a partilha e a proximidade. Mais do que luzes, presentes ou tradições, deveria ser um tempo para perguntar quem somos, como tratamos os outros e que lugar damos à fraternidade nas nossas escolhas diárias.
Que este Natal nos ajude a olhar menos para os defeitos alheios e mais para aquilo que podemos melhorar em nós próprios, reacendendo gestos simples de empatia, amizade e respeito. Que seja um tempo de verdadeira fraternidade, vivido no silêncio dos gestos e na sinceridade das atitudes.
A todos, envio um enorme abraço fraterno, com esperança e proximidade, desejando um Feliz e Santo Natal.