A política mede-se muitas vezes em números. Número de votos, número de obras concluídas, número de beneficiários. São úteis, claro. Ajudam a organizar, a avaliar, a justificar decisões. Mas há coisas que não cabem nos números. E são, muitas vezes, as mais importantes.
Não se contabiliza o desespero de quem espera há meses por uma consulta de especialidade e não sabe se ainda vai a tempo. Não há estatística que registe à angústia de uma empresa que aguarda um apoio ou um pagamento por causa de um atraso burocrático. Não se mede o cansaço de quem tenta licenciar um terreno ou iniciar um pequeno negócio e encontra obstáculos em cada departamento. Não há gráfico que represente a frustração de um jovem que quer ter o seu espaço nos Açores, mas não encontra casa nem salário digno.
Fala-se muito de eficácia de resultados, de metas de execução. E sim, tudo isso conta. Mas às vezes esquecemo-nos de que o serviço público, e a política, enquanto compromisso coletivo, também vive da relação com as pessoas. Na forma como se atende, como se responde, como se acompanha.
A política que verdadeiramente transforma não é só a que executa planos. É a que reconhece o que é urgente, mesmo quando não é visível num qualquer orçamento. É a que ouve antes de decidir. É a que volta aos lugares onde já esteve, não apenas para prestar contas, mas para continuar presente.
Há muito que não cabe em números. Mas cabe no cuidado. E isso, quando existe, nota-se. Mesmo que não apareça num qualquer relatório final feito por quem não chegou sequer a levantar-se da cadeira.
(Crónica escrita para Rádio)