Opinião

Dia da Região: celebrar o que somos, construir o que seremos

O Dia da Região Autónoma dos Açores não é apenas uma efeméride institucional. É, antes de tudo, um momento de identidade. Uma celebração que nos liga a todos - aos que vivem em cada uma das nossas nove ilhas, aos que partiram, mas nunca deixaram de ser açorianos, e até àqueles que, na diáspora, constroem o seu caminho com saudade no peito e orgulho na alma.
É um dia que nos convida a parar, olhar para o caminho percorrido e reconhecer o valor da autonomia conquistada. Uma autonomia que foi expressão de liberdade, afirmação da nossa história e resposta às nossas especificidades. Que permitiu trazer decisões para mais perto das pessoas, proteger a nossa cultura, afirmar a nossa voz e moldar um modelo de desenvolvimento adaptado à nossa realidade.
Mas a celebração não deve ser sinónimo de complacência. A autonomia não é um ponto de chegada - é um caminho em constante construção. Um instrumento ao serviço dos açorianos que precisa de ser continuamente aprofundado, valorizado e defendido. E é sobretudo no olhar dos mais jovens que esse caminho ganha sentido. Porque a autonomia só se justifica se for capaz de garantir futuro para quem cá vive e para quem cá quer ficar.
"Ser açoriano é um modo de consciência", escreveu Vitorino Nemésio, e essa consciência obriga-nos, enquanto povo, a não nos resignarmos às dificuldades do presente. Exige-nos ambição, solidariedade e a coragem de pensar mais longe. E ninguém melhor do que os jovens para carregar essa ambição: a geração que quer estudar, trabalhar, construir família e viver com dignidade nas suas ilhas - sem ter de partir por falta de oportunidades.
Neste contexto, os partidos políticos, todos, têm uma responsabilidade acrescida. A autonomia não se honra com palavras ocas ou rituais formais. Honra-se com trabalho, com visão de futuro, com capacidade de construir consensos em torno do essencial: garantir que os jovens têm condições reais para viver e prosperar nos Açores, que os mais velhos são respeitados, que nenhuma ilha fica esquecida e que nenhum açoriano é deixado para trás.
É imperativo combater as assimetrias internas, reforçar a coesão, investir na qualificação, na habitação, na mobilidade, na participação cívica e na transição energética. E é também fundamental valorizar a diáspora, que é parte integrante da alma açoriana e uma ponte viva entre os Açores e o mundo - onde muitos jovens continuam a ser embaixadores da nossa identidade, mesmo longe das suas raízes.
Celebrar o Dia da Região é reconhecer a força de um povo que nunca se deixou aprisionar pela geografia. Que fez do mar caminho e da saudade herança. Que soube resistir, reinventar-se e acreditar.
Hoje celebramos o que somos. Mas, acima de tudo, renovamos o compromisso com o que queremos ser. E esse futuro, esse amanhã com que todos sonhamos, tem de ser construído com os jovens, para os jovens e por eles também. Porque a autonomia não é um privilégio - é uma responsabilidade. E o futuro dos Açores constrói-se com todos e para todos.