Opinião

O silêncio que diz muito

Há dias em que o silêncio pesa mais do que mil palavras. Não por falta de coisas para dizer, mas por excesso de coisas que ninguém parece querer ouvir. Parece contraditório, mas não é.

Vivemos tempos em que os barulhos das redes sociais, das manchetes rápidas e das polémicas do dia abafam o essencial. E o essencial, quase sempre, vive no silêncio: o silêncio dos que trabalham todos os dias e não têm tempo para se indignar nas redes; o silêncio dos que esperam por uma consulta, por uma decisão, por uma oportunidade; o silêncio dos que continuam a acreditar que é possível mudar, mas não encontram espaço para o dizer.

Não é por acaso que muitas vezes confundimos ausência de barulho com ausência de ação. E, no entanto, há tanta gente que age em silêncio. Que cuida, que constrói, que serve. Que escolhe fazer, em vez de falar. Que acredita que a transformação real não se faz aos gritos, mas com persistência, com tempo e com humanidade.

É por isso que, nesta crónica, escolhi dar voz a esse silêncio. Porque também ele é político. Porque também ele tem um lado. E porque é nele que muitas vezes está a verdadeira coragem: a de continuar a fazer, mesmo quando parece que ninguém repara. Mesmo quando o reconhecimento não vem, e o apoio tarda.

Há quem ache que o ruído é poder. Eu continuo a acreditar que é no silêncio que se constrói o que verdadeiramente importa. Porque o ruído passa. Mas o que é feito com convicção, com cuidado e com respeito, é eterno.

E há silêncios que dizem tudo. Basta sabermos ouvi-los.

 

(Crónica escrita para Rádio)