Opinião

Segurança e defesa marítima no Atlântico

A segurança marítima da Europa está em risco — e o Atlântico não pode continuar esquecido, foi este o mote principal para o evento que promovi esta semana, no Parlamento Europeu, em Bruxelas e que reuniu decisores políticos, reputados especialistas civis e militares e representantes da Comissão Europeia.

Num tempo em que as ameaças se multiplicam e se tornam mais difíceis de prever, proteger os nossos mares já não é apenas uma questão militar. É uma necessidade económica, energética, social e política. E é também uma responsabilidade de todos.

A União Europeia tem a maior Zona Económica Exclusiva do mundo. Por esses mares circulam bens essenciais, energia, dados e pessoas. Mas também por lá passam riscos: sabotagens a cabos submarinos, interferência em infraestruturas energéticas, tráfico ilícito, pesca ilegal e competição geopolítica cada vez mais evidente. A realidade é esta: a nossa segurança coletiva começa também no mar. Mais, começa, de forma distinta, nas diferentes bacias marítimas europeias.

É por isso que venho defendendo uma resposta europeia mais coordenada, mais integrada e mais ambiciosa. A segurança marítima não é apenas tarefa das marinhas ou da estrutura tradicional da defesa — é missão que exige o envolvimento de decisores políticos, comunidades costeiras, empresas, investigadores e cidadãos e assume hoje uma dimensão essencial da nossa autonomia estratégica.

Mas há um ponto que deve merecer redobrada atenção: o Atlântico, devido á sua maior segurança relativa, continua menos no centro das preocupações europeias. É certo que a atenção tem recaído, e bem, sobre o Mediterrâneo e o mar Negro, onde as tensões são visíveis e mais imediatas. Porém, o Atlântico, apesar de parecer mais “calmo”, é uma peça-chave no xadrez da segurança global. Ignorá-lo é um erro estratégico.

O Atlântico liga-nos às Américas e a África, alberga infraestruturas críticas e regiões como os Açores e a Madeira, que são a nossa linha avançada no oceano. Precisamos de reforçar a nossa vigilância, melhorar a partilha de dados, proteger melhor as infraestruturas e investir na cooperação regional — por exemplo, através do Atlantic Centre, em Portugal.

Temos estratégias — a nova Estratégia Europeia de Segurança Marítima, o Compasso Estratégico — mas precisamos de mais ação, a maior velocidade e com mais meios e coordenação. As comunidades costeiras não podem continuar a ser esquecidas, nem o Atlântico relegado para segundo plano. A UE tem que retomar a consciência que segurança no mar é segurança em terra. E que virar as costas ao Atlântico é virar as costas a nós próprios.

 

Eleições

Os resultados foram maus para o PS e vêm comprovar a tendência de declínio das forças social-democratas um pouco por toda a UE. O problema, independentemente da geografia, está muito para além das lideranças. Por isso, convém que, na reflexão indispensável, não nos enganemos no diagnóstico para que o foco esteja onde deve estar. Só assim o PS poderá iniciar o caminho necessário para recuperar, cá e lá, a confiança das pessoas.