Nas últimas horas, as redes sociais encheram-se de frases do Papa Francisco. Citações inspiradoras, imagens comoventes, vídeos emocionantes. A máquina digital não falha quando se trata de reagir à perda de uma figura mundial. Mas, há uma pergunta que não me sai da cabeça: quantos dos que hoje partilham frases do Papa, alguma vez tentaram vivê-las no seu dia-a-dia?
O Papa Francisco não foi apenas um líder espiritual. Foi um homem que arriscou incomodar. Que falou da pobreza não como conceito, mas como uma realidade concreta que exige ação. Que enfrentou poderes, dentro e fora da Igreja, para pôr no centro os últimos, os descartados, os esquecidos. Que pediu simplicidade, empatia e coragem — e viveu com coerência cada palavra que disse.
A melhor homenagem que lhe podemos prestar não é uma publicação nas redes sociais. É um gesto. Um perdão difícil de se concretizar. Uma conversa sincera com quem está sozinho. Uma opção mais justa, mesmo que menos lucrativa. Um compromisso com o planeta, mesmo que custe mudar hábitos. É acolher quem pensa diferente. É pôr aqueles que mais precisam no centro. É dizer menos e fazer mais.
A fé que o Papa Francisco proclamou não era de fachada. Era uma fé com os pés no chão e os olhos no outro. Uma fé que não se mede em missas, mas numa mão estendida.
E se quisermos, mesmo, honrar a sua memória, não precisamos de o citar. Basta ouvi-lo e agir.
O Papa Francisco partiu. Mas o que nos deixa exige mais do que luto e partilhas nas redes sociais: exige resposta.
(Crónica escrita para Rádio)