Opinião

Entendam-se!

O resultado das eleições regionais do passado dia 4 é muito claro, mas presta-se a alguns equívocos quanto à sua interpretação.
Num cenário de eleições antecipadas com aumento da participação eleitoral, não pode deixar de ser salientada a vontade expressa na continuidade e em dar uma segunda oportunidade a José Bolieiro e à Coligação PSD/CDS/PPM.

Todavia, a questão de fundo é que a Coligação alcançou uma vitória eleitoral que representa uma derrota política. A vitória decorre de ter obtido mais votos. A derrota política traduz-se em não ter atingido o objetivo da “maioria de estabilidade”. Em termos quantitativos a Coligação mantém exatamente os mesmos 26 mandatos que detinha no parlamento regional. Numa leitura qualitativa, o CDS e o PPM perderam influência na Coligação. José Bolieiro continua refém do Chega para formar a maioria que desejava. Esta é que é a dura realidade. Bolieiro não terá vida fácil e ele sabe-o bem.

E é por essa razão que Bolieiro pediu socorro ao PS na noite eleitoral. A Coligação avançará com um governo de minoria na esperança do PS a salvar da extrema-direita.

O PS tem com que se preocupar nos próximos meses, mas não poderá hesitar em assumir a liderança da oposição de forma clara. Esta é outra ilação que se retira das eleições.

Em 2020 Bolieiro formou um governo com o apoio do Chega para impedir que o PS governasse. Agora, em 2024, Bolieiro apela ao PS para impedir a influência do Chega na governação. Bolieiro pede agora ao PS que faça o que o PSD não fez 2020.

Do ponto de vista estratégico, do ponto de vista do longo prazo e daquilo que os mais de 50 anos de história do PS representam como grande instituição da Autonomia, o PS só tem um caminho a seguir: votar contra o programa de governo e evitar deixar o Chega a liderar a oposição.

O passado de Bolieiro em termos de alianças compromete-o. No penúltimo dia da campanha eleitoral, Bolieiro proferiu uma frase que o assombrará - “não tenho nenhum problema com a extrema-direita”. Pois bem, agora entendam-se!