A demissão de António Costa apanhou o país de surpresa e desencadeou uma natural onda de especulações e discussões mais ou menos acaloradas por todo o país. Demitiu-se um líder experiente e um político habilidoso. Demitiu-se um político que liderou o país por anos turbulentos marcados por desafios económicos e sociais. Demitiu-se o político que voltou a credibilizar o país quer nos mercados financeiros quer nas instituições políticas internacionais. Demitiu-se também um Primeiro-ministro que foi bom para os Açores, por muito que o tentem negar.

Agora, demitiu-se porque tinha de se demitir. António Costa não podia, em consciência, tomar uma decisão diferente da que tomou porque só assim mostra que pratica aquilo que sempre defendeu ser de superior interesse: a dignidade e a credibilidade do cargo que ocupava. Foi coerente!

Desconhecendo qual a sua real implicação nas investigações que decorrem, este pedido de demissão é claramente motivado pela forma como ele próprio olhava para o exercício de cargos públicos. António Costa relevou o cargo em detrimento da pessoa que o desempenha.

Disse numa crónica, aquando das últimas demissões no Governo da República, que António Costa deveria manter a coragem de mudar o que precisasse ser mudado sempre que fosse preciso ser mudado e felizmente ele manteve essa coragem consigo próprio.

No entanto, esta demissão deixa, infelizmente, o país num estado de incerteza que não era de todo desejável. Os indicadores mostravam que estávamos num bom caminho e há um Orçamento de Estado por aprovar.

Bem sei que a política é um campo dinâmico, e as mudanças de liderança são inerentes a qualquer sistema democrático e por isso mesmo António Costa marca uma fase na nossa história e a sua saída dará início de um novo capítulo na história política de Portugal.

(Crónica escrita para Rádio)