Opinião

Pólvora seca

No parlamento regional há quem tenha a convicção de que se pode dizer uma coisa e fazer o seu contrário sem que ninguém dê por isso. Por mais interessantes que possam ser os exercícios retóricos e - regra geral - não são; por mais habilidosos que alguns possam ser, ao ponto de fazer corar de inveja um contorcionista circense; há situações que, pura e simplesmente, desafiam a lógica mais básica e chocam o senso comum. A maioria dos cidadãos observa o fenómeno político com relativa indiferença, mas não deixa de ter opinião. Depois de rasgarem os acordos, ninguém compreende que se aprove aquilo com o qual se discorda. Do mesmo modo, depois da coligação andar meses e meses a provocar os seus parceiros e a incumprir compromissos, é difícil acreditar que, no último ano, irá fazer diferente. É neste ponto que estamos. Coligação e parceiros desavindos estão de pistolas apontadas uns aos outros. O problema é que só têm pólvora seca e esperam ansiosamente que, cá fora, ninguém perceba que tudo não passa de show off. Neste verdadeiro “impasse mexicano”, a única certeza é a de que caminhamos para mais um ano perdido apenas para cumprir calendário.