Opinião

Uma não resposta

As explicações do Governo Regional dos Açores, publicadas em nota de imprensa, a propósito do pescado na Graciosa e dos problemas conexos, é uma clara desresponsabilização, que brinda os pescadores, daquela ilha, que se sentem esquecidos com a sua inércia e incompetência.

Vir explicar, em tons carregados de sobranceria, com números relativos às taxas de ocupação da carga, é um ato que só pode impressionar quem não está por dentro do problema.

As duas entidades, que tutelam o mar e a mobilidade, não explicaram que o que está em causa é a falta de capacidade dos primeiros voos que saem da Graciosa de modo a possibilitar a exportação para Lisboa no mesmo dia e isso não tem sido possível devido a uma programação da SATA que não teve em conta as necessidades daquela ilha.

Também omitiram que no primeiro trimestre deste ano, apenas 22,2% das capturas saiu por via aérea, o que denota uma degradação nas mais-valias, quando se compara com 2022, ano em que das 31,6 toneladas capturadas foram, quase na sua totalidade, exportadas por via aérea.

É por essa razão, e devido à negligência deste governo na gestão das pescas na ilha Graciosa, que, no primeiro trimestre de 2023, quando comparado com igual período do ano anterior, o preço médio do pescado caiu 32,8%.

É evidente que havendo disponibilidade em voos que não garantem essa ligação com os mercados exteriores é o mesmo do que nada e, por este caminho, as taxas de ocupação continuarão a ser baixas, os compradores deixarão de comprar e os pescadores terão maiores dificuldades.

Aquelas secretarias também se contentam pelos ganhos obtidos no sector, mas, não obstante a queda no preço médio já referido, ocultam que muitos desses ganhos são devidos a embarcações de outros portos de armamento. Para se perceber melhor, no primeiro trimestre de 2023 foram descarregadas na Graciosa 43,8 toneladas de lula, enquanto em igual período do ano anterior as capturas desse molusco não tinham chegado sequer a uma tonelada.

Todos sabem para quem vão esses rendimentos, a certeza é que não ficam na Graciosa, por isso, o regozijo governamental é perfeitamente dispensável.

E o mais grave, é que o esforço que se está a exercer no mar ao redor daquela ilha está a depauperar os recursos que, no passado, foram bem geridos pelos pescadores locais de modo a garantir a sustentabilidade. E essa gestão está, agora, a ser posta em causa com a conivência deste governo que não se importa de aumentar a pressão sobre os recursos.

O que se pede a este governo é que perceba qual é, de facto, o problema que sistematicamente é levantado pelos pescadores locais, que os oiçam como deve ser, coisa que não tem acontecido, e não procurem desculpas e explicações que revelam um total desconhecimento do que se está a passar naquela ilha.