Opinião

Abandonados

As dependências, sejam elas relacionadas com o consumo de substâncias psicoativas ou de álcool, são um problema sério que afeta muitas pessoas e as suas famílias. Com as dependências, um conjunto de problemas surgem por arrasto, onde se incluem os problemas de saúde mental e física, famílias afetadas, dificuldades financeiras e problemas legais.

Recordo que o anterior Governo Regional Socialista, no contexto da Estratégia Regional de Combate à Pobreza e Exclusão Social, criou os Polos Locais de Desenvolvimento e Coesão Social nos territórios prioritários das freguesias de Arrifes, Fenais da Ajuda, Água de Pau, Rabo de Peixe na ilha de São Miguel e da freguesia da Terra-Chã na ilha Terceira.

Os Polos Locais de Desenvolvimento e Coesão Social integravam, também, na sua ação no terreno e em proximidade com estas comunidades a estratégia de prevenção e combate às dependências. Constituindo-se espaços de referência, acolhimento e orientação para todos os que procuravam ajuda para superar as suas dependências, mas também no apoio mais alargado à comunidade. Além disso, os Polos Locais de Desenvolvimento e Coesão Social desempenhavam um papel fundamental na prevenção das dependências, ofereciam atividades e serviços que pretendiam educar as pessoas sobre os riscos e as consequências das dependências.

Ignorando a importância destes Polos, o atual Governo Regional encerrou-os, sem criar mecanismos alternativos que pudessem corrigir o abandono a que foram votados estes públicos e as comunidades onde se inserem. A existência desta resposta não anulava esta problemática, mas minimizava e teria, a longo prazo, o objetivo de combater esta dura realidade que afeta muitas famílias açorianas.

O impacto da atual decisão política no combate às dependências nos Açores já se faz sentir. Basta olhar para o agravamento da problemática das dependências, muito em resultado do surgimento das chamadas substâncias sintéticas, mas intensificado pela falta de acompanhamento nas próprias comunidades, onde esta realidade se faz sentir de modo particular.

 A falta de acesso a esses serviços facilita o aumento das taxas de dependência e a diminuição da qualidade de vida das pessoas afetadas e, naturalmente, da sociedade em geral. Além disso, o encerramento destes organismos afeta negativamente a economia local, já que esses Polos promoviam a criação de empregos e investimentos nas comunidades em que estavam localizados.

Para um Governo Regional que apregoa o orçamento para 2023 como o orçamento com maior pendor e responsabilidade social de sempre, não consegue manter a estratégia de combate à pobreza, nem é capaz de tão pouco apresentar uma estratégia integrada de combate à pobreza em conjunto com os territórios e sobre os Polos Locais de Desenvolvimento e Coesão Social nada se sabe.

E, neste rumo, a Região segue em contraciclo, recuando no caminho que havia sido trilhado até 2020. Hoje assistimos a uma visível e sentida degradação das condições de vida e, consequentemente, ao aumento da pobreza e da exclusão. Onde as dependências são, em simultâneo, causa e consequência do agravamento destas problemáticas.

Ao flagelo das dependências este Governo Regional responde baixando os braços e deixando estas pessoas e as suas famílias entregues à sua sorte, seja ela qual for!

 

(Crónica escrita para Rádio)