Opinião

A Primeira Tentação

Passados dois anos e meio sobre a posse do atual Governo dos Açores, o ajuntamento da direita continua fixado no passado recente.
Fala-se na Saúde, e as carpideiras de serviço rasgam as vestes e choram a dívida existente. Até parece que, quando lá andaram, deixaram tudo pago, e um porquinho mealheiro, acondicionado em naperon, à porta de cada unidade de saúde! Fala-se na Educação, onde os governos do PS fizeram uma reestruturação quase total da rede escolar, e eles choram amargamente que, afinal, é preciso manter... Fala-se em qualquer área, e o governo logo lacrimeja os problemas que persistem - em suma, como é difícil governar, que trabalheira!
Ao fim de dois anos e meio, o ajuntamento está farto e cansado: atiraram-se ao governo pensando que era uma marcha para desfilar os arreios do poder, e não para servir. E que oposição esforçada terão feito, para pretensamente desconhecerem em absoluto a situação da Região?...
A desculpa primária da pesada herança revela uma doentia e traumática relação com o passado por parte dos coligados, com o insuportável desconforto de não ganharem eleições regionais desde 1992. Daí a criação de mais uma comissão de inquérito retroativa no Parlamento açoriano, para julgar "popularmente" o passado, que o povo soberano repetidamente sufragou.
Afinal, o que verdadeiramente incomoda o PSD é o veredicto popular em sucessivas eleições regionais. Mas, como escreveu Brecht, o desejo secreto de dissolver o povo e eleger outro não é muito praticável!