Opinião

“Quem cala consente”

Os últimos dias ficam marcados pelas tristes notícias da baixa do preço do leite, levada a cabo pelas indústrias de São Miguel, Terceira e Graciosa, o que significa uma grande quebra no rendimento dos produtores, que nos deve preocupar a todos.

Esta redução causou surpresa, revolta e desmotivação nos produtores de leite dos Açores. E com razões para isso!

Todos nós conhecemos as dificuldades que o setor do leite e lacticínios atravessa, resultantes de um conjunto de fatores. O setor atravessou um período prolongado de grave desequilíbrio, entre preço pago à produção, e aumento do custo dos fatores de produção, que se traduzia em preços de venda inferiores ao custo de produção, tendo atingido níveis insustentáveis para um grande número de produtores.

Contudo, os mercados começaram a mudar! A procura começou a aumentar! O preço ao consumidor começou a subir! E, em novembro de 2022, o preço ao produtor teve que, obrigatoriamente, começar a ver refletidas essas mudanças. Infelizmente, a situação nem 6 meses durou e já voltamos ao início.

Numa altura que coincide com as sementeiras do milho, altura de maior despesa nas explorações agrícolas, e, juntando-se aos elevados custos dos fatores de produção e taxas de juros cada vez mais pesadas, esta descida no preço do leite é injustificável e inaceitável.

Esta situação poderá levar ao desaparecimento de mais explorações e a que outras tantas continuem a baixar a sua produção, motivadas, também, pela manutenção da medida da redução voluntária para 2023. É bem provável que comece a faltar leite para abastecer a indústria regional. E, certamente, o lugar que os Açores podiam ocupar nos mercados, quer nacionais, quer internacionais, será ocupado, mas não será por nós, evidentemente.

Não é assim que se defende um setor tão importante para a nossa economia, não é assim que se defende os produtores de leite dos Açores. Não é assim que se espera sustentabilidade e equidade em toda a fileira.

Neste momento, as ajudas prometidas pelo Governo Regional são insuficientes face à redução do preço de leite pago ao produtor.

E o Governo Regional? Ausente em combate! Continuamos sem saber qual a posição deste Governo, qual é a estratégia que vai adotar para defender e proteger o setor do leite e lacticínios, se é que o vai fazer. É perturbador o silêncio do Secretário Regional da Agricultura perante este flagelo, mas a verdade é que “quem cala consente”.

Sabemos apenas, pela voz do Presidente do Governo, que este está “vigilante”. Mas ao Governo, mais que ser “vigilante” impõe-se que seja proactivo nas suas decisões, responsável nas suas estratégias e sério nas suas promessas.

Acima de tudo, que seja capaz de defender e proteger, neste caso, quem produz. Que não consinta, nem cale; que não se acanhe e que diga Presente. Presente pelos Açores! Presente pelos nossos agricultores!