Opinião

Ainda os navios

Como tem sido dito bastas vezes, o serviço de transporte marítimo de passageiros e viaturas, fundamental para qualquer região rodeada por mar, foi descontinuado depois do regresso do PSD ao governo, desta vez coligado ao CDS e PPM, e com apoio de outros pequenos partidos que agora, depois de rasgados os acordos, fica cada vez mais difícil saber de que lado estão. Enfim, são situações determinadas pela aproximação das eleições, muito certamente.

Sabe-se que a questão financeira e as taxas de ocupação foram as desculpas usadas para esta decisão penalizadora para os Açores e para os Açorianos, no meu entendimento.

Os responsáveis pelos transportes na Região, usando os números do Tribunal de Contas relativamente às taxas de ocupação da Linha Amarela, de 18 a 24%, justificavam, assim, o seu desmantelamento intempestivo e sem se darem ao trabalho de falar com os representantes das populações afetadas.

Pelos vistos, quando as taxas de ocupação são baixas é para fechar.

No entanto, mais curiosas são as declarações de um administrador da Atlânticoline que, perante uma análise à situação da empresa, considerou que a Linha Laranja estava bem e recomendava-se, sendo que, neste caso, a respetiva taxa de ocupação se situava na ordem dos 15%. Aqui, pelos vistos, já não há qualquer problema.

Talvez para ganhar tempo, este governo anunciou um estudo para a descortinar as melhores soluções, quer para os transportes marítimos de passageiros, quer para o transporte marítimo de mercadorias, que deverá ser conhecido nos próximos dias.

Os estudos valem o que valem, ou seja, servem para analisar as várias opções, os prós e contras e, por fim, definem aquela que será a melhor solução para o poder político decidir nos locais próprios.

O problema é que este processo está a ser feito ao contrário, ou seja, o governo está a decidir sem saber o resultado do estudo.

Os anúncios estão feitos. Os dois ferries (também já ouvi que será apenas um) do grupo central vão para o grupo oriental e para o grupo central vão adquirir-se dois navios elétricos, decisão comunicada pelo titular das finanças que, muito certamente, tem pressa em executar as verbas do PRR e esta será uma maneira mais fácil de o conseguir.

Decide-se primeiro e adapta-se o estudo à decisão. Este é o mote para o que mais parece uma brincadeira do que uma orientação política para os transportes entre as ilhas, que vai afetar várias gerações e comprometer o tão falado mercado interno.

Se é certo que a eletrificação das embarcações é uma questão pacífica e desejável, já a questão da eficácia da operação em todo o grupo central não está garantida nem sequer explicada.

Estas e outras posições sobre esta matéria, fazem destas decisões uma aberração, porque estão a ser tomadas, novamente, sem ouvir os representantes das populações e, imagine-se, antes de ser conhecido o tal estudo que foi encomendado precisamente para definir a política de transportes marítimos.