Opinião

Máscaras e outras fugas de retórica

Esta semana o Carnaval é rei e, após os confinamentos e restrições impostas pela crise pandémica, estão de volta as muitas e diversas atividades festivas e culturais que, em cada uma das nossas 9 ilhas, marcam a identidade e tradições que as diferenciam e caraterizam.

É Carnaval, ninguém leva a mal.

É este o mote tantas vezes repetido a propósito de excessos e folias que os festejos de Carnaval propiciam e desculpabilizam. É esse o propósito desta quadra ancestral que nas nossas ilhas é festejada entre desfiles, marchas, bailes, mascarados, batalhas de água e, como não podia deixar de ser, alguma gastronomia típica como as malassadas, os coscorões, as fatias douradas e as rosas do Egipto.

Mas a valorização e o reconhecimento da celebração do Carnaval, pelas coletividades e associações dos Açores, tem níveis de desigualdade. Que o digam, por exemplo, aqueles que viram o pedido de declaração de interesse público indeferido porque a tradição carnavalesca da sua ilha, apesar de incluir danças de Carnaval semelhantes às realizadas na Ilha Terceira, não possui dimensão cultural, económica e turística.

Assim se desconsideram e anulam as iniciativas culturais que visam dinamizar os territórios onde, quer o combate ao envelhecimento e ao despovoamento, quer o combate à sazonalidade são desafios que urge vencer. Sem dinamismo cultural a coesão territorial, a coesão económica e a coesão social não acontecem.

Fica claro que, para este Governo, as atividades culturais que, pela sua dimensão, não geram dinheiro nem atraem turistas não são para apoiar mesmo que esse apoio seja apenas uma declaração de interesse público para dispensa da atividade laboral dos elementos que a realizam.

O desfiar de toda uma ladainha de argumentos por parte do Governo e dos partidos políticos que o suportam assemelha-se cada vez mais a fugas de retórica carnavalesca.

Como esperado, o último Plenário da ALRAA foi palco, quer no âmbito do Debate de Urgência sobre as “Condições de vida nos Açores e os mais recentes indicadores socioeconómicos”, quer no âmbito da Sessão de Perguntas ao Governo Regional sobre a Ilha Terceira, de mais um chorrilho de ataques ao passado e à Governação Socialista. Já não surpreende que, face à ausência de respostas e de projetos inovadores, o ataque agressivo e tóxico, quer político quer pessoal, seja a melhor saída para este Governo de coligação do PSD, CDS-PP e PPM.

A preocupação cega e exasperante com a sua sobrevivência fragiliza ainda mais este Governo enredado na sua displicência de repartir poderes e protagonismos.