Opinião

O ilusionismo político no seu melhor, reconheço

Tática. Regresso à palavra.

Lá para os lados de meu último artigo, defendia eu que a área governativa da Educação Açores tem mantido uma postura bastante vergada ao taticismo político, claramente abdicando a governante de apontar baterias a um alvo, de traçar rumo a ambiciosos objetivos, de desbravar novos caminhos para os alcançar e, acima de tudo, tudo isto em nome de se priorizar o calculismo de, certo dia mais adiante, evitar-se a cobrança perante os mais do que naturais e inevitáveis insucessos. E que afinal o lamentava, naturalmente. A derrota é de todos. Nunca vencerá quem muito teme perder. Importa muito é ir fazendo o bonito. Ludibriar o eleitor, isso sim, em nome de um próspero futuro político-partidário.

Tática, tática e mais tática. Aqui vão três:

1. Manuais escolares: Faladas as coisas com muito jeitinho, interessa mesmo é fazer crer à opinião pública de que este governo é o extraordinário autor da gratuitidade dos manuais escolares. Muita tática, deveras. Surfando a onda da disponibilização dos manuais digitais, interessa mesmo é publicitar a coisa de modo a que quem oiça percecione que este governo é o grande libertador do peso orçamental familiar naquilo que respeito diz à aquisição dos manuais escolares. Pois bem, efetivamente para que se não diga que quem cala consente, e apenas para esse efeito, que aqui fique o registo: nada mais falacioso. Há já mais de dez anos que o sistema de empréstimo é acessível a todos os interessados, sem exclusões. Para além da ofertados manuais escolares aos alunos do primeiro e segundo anos de escolaridade, com plano faseado de se fazer progredir o mesmo princípio para anos mais avançados, nenhum aluno do nosso sistema educativo regional, e em escolaridade obrigatória, compraria seus manuais sem a possibilidade alternativa de recorrer a este inteligente e virtuoso apoio governamental - o empréstimo.

Mais tática.
 

2. Abandono Escolar Precoce: Diz o conceito europeu que "abandono escolar precoce" é quando o jovem, com idade compreendida entre os dezoito e os vinte e quatro anos de idade, deixa de fazer parte do sistema educativo sem que antes conclua com sucesso o décimo segundo ano de escolaridade ou, em alternativa a isto, se encontre a frequentar algum tipo de formação, ainda que a mesma informal. Muito bem. Ora, exclusivamente focado, o governo, em apresentar uma redução desta taxa (acima de tudo porque obcecado de a todos poder exibir mais e melhor do que o PS e sem quaisquer compromissos), há que colocar em campo uma tática vitoriosa deste objetivo estatístico, interessando lá se o aluno se apropria ou não se apropria da aprendizagem mais consistente possível. O investimento em plano anual de atividades para 2023 é como que o rabinho do gatinho mal-escondido, colocando na rubrica "promoção do sucesso educativo e combate ao abandono escolar precoce" uns impressionantes ZERO euros. Não se investe, portanto, seriamente, nas aprendizagens dos alunos de modo a que se concretize a redução desta taxa pela via desejável - a conclusão do décimo segundo ano de escolaridade - para se tentar lá chegar via porta dos fundos, tudo fazendo para que os jovens enquadrados neste escalão etário se mantenham, de algum modo, também enquadrados na contabilidade dos que frequentam algum tipo de formação.

E mais tática.

3. Número de alunos por turma: A propaganda que se não faz, ainda hoje, sobre a grande decisão da redução do número de alunos por turma! Meados do ano transato, e, como grande medida, lá veio a Sra. Secretária Regional anunciar a redução do número de alunos por turma de 23 para 18. Quem isto ouve, naturalmente aplaudirá, não se tratando de alguém bem conhecedor do assunto. Uma vez mais, jogando com o mais do que previsível bom impacto da apreciação popular sobre tal decisão, toca de fazer tábua rasa do histórico quando o mesmo não abona lá muito a favor. Mas eu ajudo a relembrar: a herança deste governo nesse domínio foi a de uma média de 15 alunos por turma. Simples. Repito: 15 alunos por turma!

Enfim...o ilusionismo político no seu melhor, reconheço.

É de Educação que falamos, afinal, lembram-se?!...Da real aprendizagem dos nossos jovens, sim, isso, e não, e não mesmo, nem de artes circenses nem de qual a mais eficaz tática de se vencer um confronto no "mata-mata" do mundial de futebol.