Opinião

Encenação

Já toda a gente perdeu a conta ao número de vezes que os três deputados ameaçaram romper com o apoio ao Governo da coligação. Todos os anos, à medida que o debate sobre o orçamento se aproxima, Barata, Pacheco e Furtado coincidem no diagnóstico: o governo não cumpre com os acordos de incidência parlamentar e está muito aquém das expectativas. Os três aparecem muito indignados a dizer que assim não pode ser, que não vão continuar a apoiar, que a paciência tem limites, que o Governo é muito mau e os açorianos merecem muito melhor. Resultado: Bolieiro, com um sorriso esfíngico, promete mudar alguma coisa e os três fingem que acreditam para, suspirando de alívio, votarem favoravelmente mais um balão de oxigénio e a continuidade do Governo e, já agora, deles próprios no Parlamento.  Este jogo de sombras é, em síntese, mais uma enjoativa encenação na disputa por um naco de atenção mediática. Podem gritar, berrar, criticar, fazer o espetáculo do costume. No final do dia, não só já ninguém acredita, como ninguém liga. Afinal, como bem escreveu o ensaísta Juan Montalvo, “não há nada mais duro do que a suavidade da indiferença”.