Opinião

Sempre em cima do joelho

"Deixar de preparar é o mesmo que se preparar para o fracasso."
John Wooden

Julho. Dias de sol, sobre as ilhas. Há do mar um convite a que nele entremos. Há em nós um espírito, o de lhe dizer que sim.

As escolas gozam de um silêncio. De um estranho silêncio. Não lhes assenta na pele. No seu mais profundo íntimo há um natural e indivisível som de crianças. É assim que eu o sinto, aquilo o que para alguns se traduz antes num insuportável ruído. Pessoalmente, sempre assim o senti. Sempre estranha a sua ausência, a do som, por alturas destas do ano. A verdade, afinal, é que o nunca entranhei - a este estranho silêncio - contradizendo o poeta. Nem sempre se entranha, para além de o estranhar. Vejo assim, desculpa. Será o caso. As mais respeitosas desculpas, senhor Fernando.

Mas há muito labor. Muito. O do entretanto. Do apagar das luzes ao seu renovado reacendimento. Do muito exigente encerramento de um ano letivo à mais exigente ainda preparação do seguinte. E então, então, no que a tal diz respeito, essencial às escolas, no alicerce de sua árdua tarefa, incontornável aos seus órgãos de gestão, o saber, afinal, com quantos ovinhos se contam para que a complexa omelete do novo ano escolar se cozinhe. Não pode uma escola, nesta fase do ano, desconhecer se terá, ou não terá, os assistentes e técnicos suficientes para a abertura de portas aos seus alunos. Não pode uma escola, nesta fase do ano, desconhecer se terá assistentes e técnicos suficientes para acompanhar os seus alunos de educação especial. Não pode uma escola, nesta fase do ano, não estar certados recursos humanos com que conta para a sua proposta de constituição de turmas. Não pode uma escola, nesta fase do ano, aguardar por saber se muitos dos seus projetos pedagógicos terão ou não luz verde para prosseguir. Não pode uma escola desconhecer, nesta fase do ano, se conseguirá com que todos os seus docentes tenham a formação mínima adequada a assegurar a operacionalização dos manuais digitais impostos a todos os quintos e oitavos anos de escolaridade. Não pode uma escola desconhecer, nesta fase do ano, quando receberá os respetivos portáteis para o efeito nem tão pouco se contará com o devido apoio informático de vital indispensabilidade. Não pode.

É na sua preparação que um bom ano letivo se garante. Na sombra. Não entretanto, muito menos depois. Não é aquilo a que se assiste. Porque aquilo a que se assiste, ainda que com os órgãos executivos das escolas com muito receio de falar (e vá-se lá saber porquê!) é ao tempo a passar e ao ponto de não retorno esgotado em já muitas das questões-pilar para que o sucesso escolar não seja fruto do acaso. E é um pouco assim que está. Navegação à vista. Sempre em cima do joelho.