Opinião

Açores 2022

Celebrar o Dia dos Açores tem de ser mais do que apenas uma evocação do Passado, um relembrar das nossas raízes, um apregoar da nossa identidade.
No mundo global e vertiginoso em que vivemos, um mundo em que a mudança se tornou a maior constante da Vida, celebrar os Açores tem a ver, clara e inequivocamente, com o Futuro.
Essa é, não só uma obrigação, mas, sobretudo, uma necessidade. Uma obrigação perante os que nos antecederam. Uma obrigação perante os nossos concidadãos. Uma responsabilidade perante os que, pela lei natural da vida, nos hão de suceder.
E celebrar esse Futuro coletivo, celebrar esse devir anímico e societal, começa por ter de radicar numa inequívoca confiança na nossa capacidade, como Povo e como Região, para ultrapassarmos os desafios que estão à nossa frente.
Ora, isso tem a ver com a nossa Autonomia, mas não tem a ver, não pode ter a ver, apenas, com a expressão institucional da nossa Autonomia. Ou seja, a Assembleia Legislativa e o Governo Regional.
Tem a ver, em primeiro lugar, e antes de mais, com a sociedade açoriana na dinâmica da sua livre organização coletiva, e com as instituições representativas das suas variadas componentes, como sejam, a económica, a laboral, a social, a cultural, a cívica. E tendo a ver com essas entidades, o mesmo é dizer que está, diretamente, relacionado com a sua pujança, a sua vitalidade de, no fundo, cumpridas as regras da sua própria democraticidade e transparência, serem intérpretes esclarecidos e independentes, fundamentados nos interesses setoriais que lhes dão legitimidade e razão de ser.
Desse ponto de vista, sou dos que entende que a Autonomia deve assumir também essa tarefa de estimular e de garantir que esses requisitos estão preenchidos, não porque os seus órgãos se devam imiscuir na atividade quotidiana dessas instituições, mas porque é do interesse da própria Autonomia, e do seu exercício, criar as condições objetivas que garantam a regularidade, fiabilidade, democraticidade e genuinidade dessa representação.
Um segundo aspeto prende-se, agora sim, com as instituições autonómicas e com a imperatividade delas serem, pela sua ação e pelo seu comportamento, bem como pela ação e pelo comportamento dos seus titulares, um fator de credibilização e de fortalecimento das condições que os Açores têm, ou podem vir a ter, para fazer face aos desafios que estão à sua frente.
Sendo verdade que são muitas mais as ocasiões que, presentemente, aparentam militar a favor da degradação das instituições e da sua ação, do que propriamente o contrário, sejam essas circunstâncias momentâneas ou conjunturais, sejam elas um sinal ou sintoma de um mal mais profundo que, corroendo a Autonomia há já longo tempo, agora se manifestam de forma notória, tal pouco releva para o que aqui agora se quer transmitir.
A questão de fundo, a questão de substância autonómica, é que sem instituições fortes, liderantes e coletivamente reconhecidas como válidas, úteis e decisivas, mais difícil se tornará aos Açores enfrentarem e vencerem o que o Futuro nos reserva, como reserva a todas as outras comunidades politicamente organizadas por esse mundo fora.
Em terceiro lugar, e para concluir, ressalta uma ideia em que tenho vindo a sublinhar de forma especial.
Trata-se da ideia de se saber para onde se vai. De se ter um projeto sobre o que se quer que os Açores sejam no futuro e o que temos de fazer para lá chegar, considerando, como não podia deixar de ser, tanto aquilo que nos eleva como aquilo que, porventura, nos pesa.
E se os tempos mais recentes, entre uma pandemia e uma guerra na Europa, se encarregaram de demonstrar o quão volátil é este mundo, este presente, em que vivemos, isso não pode servir de desculpa para a ausência de rumo, nem para a escandalosa pretensa validação da peregrina ideia de que, saber navegar, é ter todas as mãos que pousam no leme a traçar um rumo diferente.
Entretanto, o mundo vai mudando, o mundo vai tomando decisões e definindo prioridades, trazendo um preço demasiado elevado para os que, por distração ou incapacidade, ficam para trás, desde logo porque esquecem que, para citar apenas alguns exemplos, nas novas abordagens à valorização do capital humano, na emergência climática e na transição energética, ou na transição digital, o Futuro, pura e simplesmente, já aí está.