Opinião

Extremismos, 2 pés esquerdos e D. Sebastião

 

I – Le Pen e Mélenchon
A primeira volta das eleições presidenciais francesas ficou marcada por uma votação muito expressiva nos candidatos extremistas. À direita, Le Pen obteve o voto de mais de 8 milhões de eleitores (23,15%). E o candidato ainda mais à direita de Le Pen – Zemmour, o qual referiu que a França precisava de um Putin – teve cerca de 2,5 milhões de votos (7%). Temos aqui quase um terço do eleitorado que depositou o seu voto em personagens, ideais e programas que vão ao arrepio dos valores e princípios que se espera de uma sociedade que compõe um país do primeiro mundo. Mas não se pense que este é um fenómeno de agora. Para não recuar ao outro Le Pen, pai da atual candidata, convém ter presente que nas últimas presidenciais, em 2017, a candidata da extrema-direita (Le Pen) conquistou 33,90% na segunda volta. E tudo aponta para um significativo crescimento de Le Pen no próximo dia 24 de abril... À esquerda, Mélenchon teve mais de 7,7 milhões de votos (21,95%). Mélenchon representa a extrema-esquerda. A esquerda moderada, cuja representação ficou a carga da candidata socialista Hidalgo, obteve 2% da votação. A chave para a desejada vitória de Macron está nos eleitores de Mélenchon. E aqui podemos ter um grave problema. Para a França, para a UE e para o mundo! É que há muita coisa em comum entre a extrema esquerda e a extrema direita…

II – Ministro Costa Silva
O ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, estreou-se no Parlamento, durante o debate sobre o programa do XXIII Governo Constitucional, com uma intervenção desastrosa. O ilustre governante, académico de créditos reconhecidos e “pai” do PRR, meteu-se por caminhos enviesados. Decidiu, esquecendo-se que é titular da pasta da economia (e não das finanças), anunciar uma eventual (pré) criação de um imposto sobre os denominados lucros inesperados das empresas, o qual não faz ainda ideia do que se trata em concreto.  O Sr. Ministro disse, em resposta a uma pergunta, que “(…) vamos falar com as empresas e provavelmente considerar um imposto, um windfall tax [taxa de imposto sobre lucros que resultam de ganhos inesperados de empresas ou setores específicos], para os lucros aleatórios e inesperados que estão a ter.” Dois dias depois, o Ministro, veio afastar “para já” a implementação da ideia do tal imposto. Este até pode fazer sentido, à semelhança do que existe noutros países, agora a forma do seu “anúncio” demonstrou um académico com 2 pés esquerdos políticos…

III – Pessoas e não salvadores
Na política partidária há uma busca incessante por salvadores. Parece que estamos sempre na tal manhã de nevoeiro à espera do regresso de D. Sebastião. O “Rei Adormecido” que regressará para livrar Portugal de todo o mal. Esta lenda faz parte de um imaginário que se mantêm vivo em muitas cabeças. E traduz-se, na prática, em elevar determinados líderes partidários a salvadores. “É este! Não há alternativa melhor! É o mais bem preparado! É isto e aquilo…” Como republicano, sou pouco dado a mitos e lendas monárquicas, preferindo sempre o homem e a mulher comuns. Com virtudes e muito defeitos. Porque salvadores só mesmo nas praias!