Opinião

Fica na memória

A semana fica marcada pelas imagens da brutalidade, do impensável, do que pensávamos que já não poderia acontecer. Refiro-me, naturalmente, aos indiscritíveis massacres de civis perpetrados pelos russos em solo da Ucrânia, classificados como encenação por Sergei Lavrov.

Ontem, a Assembleia Geral da ONU aprovou, com 93 votos a favor, a suspensão da Rússia do Comité de Direitos Humanos. E não poderia ser de outra forma. Não podemos ter neste Comité representantes de um país que espalha o horror entre civis e que, tudo assim o indica, tem as suas tropas ao serviço do cometimento de crimes de guerra e contra a humanidade. Desta vez, a China não se absteve. Votou contra a suspensão, o que não é propriamente surpreendente se atendermos à visão, no mínimo, peculiar, que a China tem dos direitos humanos. Já a Hungria, a braços com um processo desencadeado pela União Europeia pelas violações do Estado de direito, votou a favor, claro!

Muito preocupantes são as 58 abstenções, já que muitas correspondem a países que votaram favoravelmente a condenação da Rússia pela invasão da Ucrânia. Ou seja, são países que se mostraram disponíveis para uma declaração de condenação, que tem um importante valor simbólico, mas que pouco vai além disso. Porém, já não alinham em atos que imponham consequências negativas, mesmo que do outro lado da moeda esteja o horror.

No nosso cantinho açoriano, esta semana tivemos mais um levantamento de rancho – reconheço o exagero da expressão, tratando-se de uma só pessoa, do líder da extrema-direita nos Açores, que veio dizer que agora é que é de vez. Disse José Pacheco que acabou o apoio ao Governo regional e que não votará a favor do próximo orçamento. A ver vamos. Já assistimos a este filme antes.

Entretanto, a Secretária Regional da Cultura, da Ciência e Transição Digital, Susete Amaro, justifica o protelamento do concurso para o porto espacial de Santa Maria com a falta de procedimentos como estudo de impacto ambiental e estudos económicos e financeiros que, segundo disse, são obrigatórios. Segundo as suas declarações, “só recentemente o gabinete de juristas que acompanha o processo fez saber de exigências legais que impedem de avançar imediatamente”.

Se a memória não me atraiçoa, o governo da direita tomou posse em 24 de novembro de 2020. Há bastante mais de um ano. Talvez o tempo suficiente para que o mesmo gabinete se tivesse apercebido do facto. Mas o que diz Susete Amaro? Que a culpa é do Governo do PS que não fez esses estudos. Justificar a própria incapacidade ou incompetência com a inação dos outros é um mau princípio e um mau indicador.

Infelizmente, da parte deste Governo já não podemos esperar nada de bom. Isto nem com remodelação vai lá.