Opinião

Da excessiva prudência à neglicência na ação

Há um senhor aqui da freguesia, que é tão prudente, tão prudente, mas tão prudente a conduzir, que é um verdadeiro terror do asfalto. Diria eu que, para além de muito excessivo na prudência, é também ele muito negligente na ação. Nunca ninguém conseguiu deslocar-se num veículo automóvel de um modo mais lento do que este senhor. E, por isso, não haverá ninguém que melhor promova as precipitadas ultrapassagens, de nervos em franja, braço e tronco de fora da janela, gesticulando, somando às atravessadelas super hesitantes dos peões, passo atrás, passo à frente, cansados de esperar pelo carro que, afinal, nunca mais chega, nem passa, de uma vez por todas. Não haverá aqui um bocadinho, enorme, digo eu, de negligência na ação?! A verdade é que o senhor presidente do governo regional consegue aplicar este maravilhoso ditado, caído sabe-se lá de que andor, em todas e quaisquer situações, em todo e qualquer discurso, em todo e qualquer momento em que um microfone lhe aparece à frente. Não sei se será isto a que chamam de bengala no discurso, mas a verdade, verdadinha, senhor presidente, é que, para além de me sentir ligeiramente exausto de a ouvir, à frase, é claro, acabou mesmo aqui dentro do meu capacete a rodar vezes e vezes sem conta, tanto que me encontro a repeti-la, sem mais nem porquê... a senhora que hoje me serviu hoje o cafezinho não percebeu nadinha...
E esta, hem?! Sei porquê! Mas sei porquê, sim!... É porque ainda não consegui, confesso, digerir lá muito bem a sua mais profunda dialética, problemas com os quais tenho que só (nem bem nem mal-acompanhado, portanto) me ir habituando, fruto de quem nasceu interessado por aprender, porém muito humilde na natureza do seu intelecto.
Ora bem. Retomando. Antes excessivo na prudência do que negligente na ação. É esta a frase lapidar. Primeira pergunta para a qual não encontro resposta fácil: tenho mesmo de escolher entre uma coisa e a outra? Eu gostaria muito mais de não ter de escolher. E mais: não posso deixar de manifestar de que gostaria também, muito mais, de que o presidente do nosso governo regional também não se sentisse assim tão compelido a escolher entre uma coisa e a outra. Uma coisa há que ser dita: aplica a fórmula. Valha-nos isso. Esta confere. Que se faça jus, sim senhor. A governação vai mesmo cumprindo o ditado. Dia após dia, mês após mês, caminhando já para o ano após ano. Excessivo na prudência... certíssimo. Tanto, que não desembucha, tal e qual o tal senhor da minha freguesia, o terror dos asfaltos. E vai daí, tanta prudência, tanta prudência, que desemboca, perigosamente a 20 à hora, na rotunda da negligência na ação. Rápido é que isto não vai mesmo. Não anda, está à vista desarmada. Mas sem despistes e regressando à reflexão: excessiva a prudência, eis a preferência do senhor presidente. Mas... também por isso, senhor presidente, não se livra mesmo da negligente ação, certo?! Segunda e última pergunta, prometo: e porque não recriar um pouco, para que se não torne assim tão enfadonho o discurso, por exemplo, trocando só um pouquinho a ordem das palavrinhas ao grande chavão?! Uma ajuda, sugestão que até nem me parece assim tão má de todo, para uma eventual célere aplicação: antes assertivo na ação do que negligente na prudência. E que tal?! Dei a ideia!... Se não fizer uso dela, senhor presidente, é porque não quis, já depois não venha dizer que a minha oposição não foi nada construtiva.