Opinião

Não dá para anular um voto de 2019, pois não?

O Professor Vital Moreira é um insigne Professor Catedrático jubilado da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Quem andou pelos bancos de qualquer Faculdade de Direito recorda-se, pelo menos, da Constituição da República Portuguesa Anotada pelos Professores Gomes Canotilho e Vital Moreira. Academicamente, só tenho agradecimentos e elogios a fazer ao Professor Vital Moreira. O mesmo já não acontece ao nível político. Estava presente no congresso nacional do PS, realizado em Espinho, em que José Sócrates, talvez pensando que seria um belo trunfo, anuncia Vital Moreira como cabeça de lista às Eleições Europeias de 2009. Não sei se pelo seu passado comunista (militante ativo até ao início dos anos 90), a reação do congresso andou longe de ser entusiasmante. A entrada em cena foi com o pé esquerdo. Vital Moreira disse e cito “a minha surpresa não é menor do que a vossa” e fez questão de salientar que era próximo do PS desde os famosos Estados Gerais de Guterres lançados no ano de 1995. Antes desta entrada em falso, Sócrates havia apresentado Vital Moreira como “um grande defensor do projeto europeu.” Ora, vem esta reminiscência a propósito de um recente texto, publicado no seu blogue Causa Nossa, em que Vital Moreira critica a postura de vários Estados-Membros da UE que defendem uma “adesão expedita da Ucrânia à União”. Vital Moreira tem, obviamente, todo o direito a emitir a sua opinião. Mas, confesso, que os argumentos aduzidos me deixaram muito maldisposto. O ilustre Professor, sabendo que a Ucrânia está a ser dizimada por bombas, começa por dizer que não vê como possível a Ucrânia “cumprir em poucos anos” os critérios de adesão. A sério? Mas não fica por aqui… O autor depois de referir a má experiência da adesão da Hungria e da Polónia, escreve que a adesão da Ucrânia significaria “uma sensível deslocação do centro territorial, económico e político da União [para leste da Europa], «continentalizando» ainda mais a União e desvalorizando a sua frente atlântica, já fortemente debilitada com o Brexit.” E continua escrevendo que “junto com a Irlanda, Portugal e Espanha iriam tornar-se ainda mais periféricos na União, pelo que não se compreende que estes países, contra os seus interesses, deem o seu acordo a qualquer aceleração privilegiada da entrada da Ucrânia (ou de outros países do Leste).” A terminar, como se pode sempre piorar, escreve Vital Moreira que “A entrada da Ucrânia alteraria também a relação de forças políticas no Parlamento Europeu […] passando a ser o quinto maior Estado-membro da União […] teria direito a mais de 50 deputados […] seriam esmagadoramente dos partidos de direita e de centro […].” Assim, sua eminência sentencia que “seria estranho que os partidos socialistas e social-democratas que integram o Partido Socialista Europeu, e em especial os maiores, como os da Alemanha, Espanha e Portugal, viessem apoiar entusiasticamente um tal reforço da direita no Parlamento Europeu (tal como no Conselho e na Comissão).” Em 2009 votei em Vital Moreira. Já que não posso anular o meu voto… Resta-me, em nome dos mais elementares valores fundacionais da UE, pedir desculpa...