Opinião

A trapalhada do fim dos encaminhamentos gratuitos no transporte aéreo para turistas

Sem qualquer aviso prévio, sem ouvir órgãos das ilhas e as associações representativas dos açorianos, o Governo Regional decidiu pôr fim à existência de encaminhamentos gratuitos para passageiros não residentes no transporte aéreo interilhas.

Com a implementação desta medida, a par da suspensão do transporte marítimo de passageiros, dá-se uma verdadeira machadada na coesão regional, fazendo das ilhas com menos ou sem ligações aéreas diretas com o exterior menos atrativas do ponto de vista das acessibilidades e do custo da viagem.

Estamos perante a perda de competitividade turística de umas ilhas em relação a outras e isso significa um claro retrocesso no caminho que temos percorrido. Com esta decisão, um passageiro que opte por viajar em lowcost para os Açores e quiser viajar para a Horta, ou para qualquer outra ilha, já não poderá fazê-lo gratuitamente, aniquilando por completo o conceito de “aeroporto único regional”.

Mas a trapalhada é ainda pior quando não existe uma alternativa. O Governo diz que está a estudar uma alternativa. Mas a alternativa não devia ter sido estudada e apresentada aos açorianos antes da decisão unilateral do Governo? Claro que devia! Temos um governo que primeiro decide e só depois é que estuda! e, entretanto, são a economia das nossas ilhas que vão ficando para trás.

Não têm faltado protestos de estruturas empresarias, Conselhos de Ilha, nomeadamente o do Faial, que aprovou uma deliberação contestando tal decisão, a forma como foi tomada e a ausência de alternativas numa altura em que nos aproximamos do verão IATA. Mas, para espanto, a deliberação não mereceu a aprovação unânime desse órgão, uma vez que os membros afetos aos partidos do Governo PSD, CDS e PPM ficaram-se pela abstenção, procurando, num ato doloroso, justificar o injustificável na defesa do Governo.

Tal como a Câmara da Horta, liderada pelo antigo deputado do PSD, que num contexto de Governação do Partido Socialista, teria, de imediato, juntamente com os membros Conselho de Ilha do PSD/Faial, rasgado as vestes na defesa do superior interesse do Faial e insurgindo-se contra uma medida destas tão penalizadora para a ilha.

Mas não, já não é assim.

Na Assembleia Regional, o PS propôs discutir o assunto, com urgência, mas a maioria PSD, CDS, PPM, IL e CH entenderam que não era urgente discutir o tema. O Secretário Regional dos Transportes não apareceu para esclarecer coisa alguma e os restantes membros do Governo presentes também não quiseram saber.

Entretanto, não há encaminhamentos, não há alternativa, não há transporte marítimo de passageiros, não há coesão regional. Há ilhas de primeira e ilhas de segunda na acessibilidade aos fluxos turísticos.

Haverá Governo?