Opinião

Rebuliços pós 30 de janeiro

As eleições, por norma, trazem sempre mudanças. Enquanto se aguarda com expetativa pelo novo governo liderado por António Costa, nos partidos já começou o normal rebuliço pós-eleições. E o mesmo se aplica à Assembleia da República. Mas vamos por partes:

 

i. Na Assembleia da República teremos, ao que tudo indica, a presidência entregue a Edite Estrela. A questão, nestes últimos dias, coloca-se ao nível dos vice-presidentes. O Chega, pela representação parlamentar atingida, tem direito a propor um Vice-Presidente. Acontece que o Regimento da Assembleia da República consagra que a Mesa é eleita e não nomeada! E é aqui que começou o “problema”. O Chega, percebendo que o nome que iria propor podia não ser eleito, começou desde logo a trabalhar naquilo que caracteriza este tipo de forças políticas: a vitimização. Acontece que não estaremos, no caso da presumível rejeição pela maioria do candidato deste partido, perante nenhuma inovação. Já aconteceu e não por uma vez. A maioria já rejeitou candidatos a Presidente (Fernando Nobre), a Vice-Presidentes e a Secretários da Mesa. E também já foram chumbados inúmeros candidatos a cargos externos à Assembleia. É assim a democracia. A vontade da maioria prevalece. Mas temo bem que, neste caso específico, isto não será aceite tão facilmente por André Ventura. Compete, pois, aos demais partidos não contribuírem para o ruido e muito menos atirar para o ar argumentos que rapidamente viram a favor dos demagogos.

 

ii. Os partidos políticos estão quase todos a fazer contas à vida. No PS a contagem de espingardas ficou suspensa. A sucessão de Costa terá de ficar adiada por uns anos, mas isso não significa que as “tropas” não se movimentem em busca do posicionamento ideal nas estruturas internas. O PSD, arredado do poder durante muito tempo nos últimos 25 anos, vai a caminho de nova liderança. Rui Rio recorreu ao alemão para dizer que já não é solução. A verdade é que nunca foi, mas agora é oficial. Daqui a uns meses será eleito novo líder. Montenegro? Rangel? Pinto Luz? Estes são os nomes já a circular. Mas aguardemos. O caminho será longo até 2026 e sabemos que ser líder da oposição não é uma missão fácil, nem duradoura… O CDS-PP procura evitar a extinção. Nuno Melo, provavelmente será o senhor que se segue e terá uma missão muito difícil pela frente. O PCP está, sem que se perceba bem o motivo, a adiar a sucessão de Jerónimo. Esperar mais uns tempos irá significar entregar um partido ainda com menor peso a João Ferreira ou a João Oliveira. O BE está em convulsão. Para já, Catarina Martins parece que fica. Mas o abalo foi muito forte. A passagem de 19 mandatos para 5 deixa marcas. O partido está de regresso às origens, o que significa uma guerra permanente entre inúmeras fações… qual delas a mais radical!  No PAN já se acusa a direção de Inês Sousa Real de “asfixia democrática”. Dez membros da comissão política nacional apresentaram a demissão. O ex líder, André Silva, desdobra-se em entrevistas públicas em que procura acertar contas com a atual líder (ou melhor, porta voz)… O Livre, com a eleição do líder Rui Tavares, provavelmente terá a salvo do efeito “Katar”… Aguardemos pelos próximos capítulos/lideranças…