Opinião

Rescaldo eleitoral

 

I – Participação

Em 2019 a participação nas eleições legislativas cifrou-se em 54,50%, correspondendo a 5.092.812 votantes. No passado dia 30 de janeiro, deslocaram-se às urnas 5.389.705 votantes, o que significou uma participação de 57,96%. Tivemos, portanto, uma boa notícia: a diminuição da abstenção! No entanto, infelizmente, nos Açores, as notícias a este nível são ainda desoladoras. Apenas 36,71% dos eleitores inscritos (correspondendo a 84.084 votantes) decidiram exercer o seu direito de voto. Isto significa que quase dois terços dos eleitores Açorianos ficaram em casa. A decisão de escolher os nossos 5 representantes na Assembleia da República foi assumida por apenas um terço dos eleitores. Foi uma opção. Mas não considero que seja assim que se defende e alimenta a Democracia…

II – Vencedor principal

O PS foi o claro vencedor destas eleições. Nos Açores e no País. Os eleitores escolheram o caminho da estabilidade e da confiança que António Costa representa. O resultado final, isto é, a maioria absoluta, decorre essencialmente do voto útil à esquerda. Os eleitores, após o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, perceberam que a geringonça tinha deixado de ser solução para passar a ser um problema. Essa avaliação significou uma forte penalização do BE e PCP. O BE passou de 19 mandatos obtidos em 2019 para 5. O PCP ficou com metade da representação parlamentar (6 mandatos, em vez dos 12 de 2019). Os 350 mil votos a menos, face a 2019, que estas forças políticas obtiveram agora, transitaram diretamente para o PS. Este reforço de votação no PS, conjugado com o crescimento do Chega e da IL, possibilitou ao PS atingir uma (inesperada) maioria absoluta.

III – Outros vencedores

O partido de André Ventura foi o maior vencedor dos outros partidos.  O Chega passou de 1.30% em 2019 para 7,15%. Em 2019, com 66.448 votos, tinha conseguido eleger apenas o líder do partido. Agora, com 385.559 votos, conseguir eleger 12 mandatos. O Chega passou de 7.ª força política para 3.ª! Outro dos vencedores da noite foi João Cotrim de Figueiredo. A IL também teve um crescimento exponencial. Passou de 1 para 8 mandatos. São atualmente a 4.ª força política no Parlamento.

IV – Derrotados

Podia falar novamente nos partidos mais à esquerda, incluindo os Verdes; ou do PAN; ou do CDS-PP ou do PSD de Rio, mas como estou nos Açores, foi aqui que se registou a derrota maior. A coligação, pomposamente (re)batizada de AD, teve, como diz o povo, uma entrada de leão e uma saída de sendeiro. O entusiasmo na hora do anúncio da AD, com loas ao objetivo da consolidação de um projeto político patente no XIII Governo dos Açores, deu lugar, contados os votos, a uma tentativa de reescrever a história. Afinal não se tratava de consolidar nada. Apenas de eleger deputados à AR. Ficou-lhe mal. Os líderes assumem-se. Mais valia ter tido a coragem de dizer o óbvio: estaremos por aqui enquanto o Chega e a IL assim entenderem. Aguardemos pelas próximas exigências…