Opinião

Tato em época de saldos

No dia 27 de agosto de 2021, no portal do Governo, foi colocada uma importante nota pública. A referida nota, intitulada “Presidente do Governo enaltece trabalho da Comissão de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia nos Açores”, começava assim: “O Presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, recebeu hoje em audiência o Presidente da Comissão de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia nos Açores, Gustavo Tato Borges, elogiando o trabalho da equipa comandada pelo médico e os resultados atingidos na contenção da covid-19 no arquipélago.” Seguidamente, era deixada “uma palavra de reconhecimento e satisfação pelo trabalho desenvolvido pela equipa, depois de se saber que a comissão será extinta em 1 de setembro, resultado do incremento do processo de vacinação contra a covid-19, mais a mais num contexto de imunidade de grupo iminente e com mais de 70% dos Açorianos totalmente vacinados contra a doença.” Por fim, para não ser demasiado exaustivo, era ainda mencionado que “(…) está em marcha a criação de uma Autoridade Regional de Saúde Pública” com “total independência” e fora da orgânica do Executivo”. Decorridos menos de 5 meses, com os números diários de infetados a bater recordes; com a imunidade infelizmente distante e a prometida Autoridade de Saúde a nem constar sequer do papel, volta-se a recorrer a um alegado trunfo. O Governo voltaria a ter Tato. No passado dia 10 de janeiro, perante as notícias do regresso do ex Presidente da extinta Comissão de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia nos Açores, através da celebração de um contrato de prestação de serviços “a partir de 15 de janeiro, por um período que se prevê de seis meses” e com um valor mensal de 1.000 euros, acrescidos de IVA”, Bolieiro veio a público dizer-nos que “Não se trata de um regresso, mas sim de um acompanhamento, desta feita contratualizado para o bom aconselhamento, desde logo da Direção Regional de Saúde, da Autoridade de Saúde Pública da Região e do próprio Governo, no âmbito da Secretaria Regional da Saúde”. Questionado, especificamente, sobre a celebração deste contrato, o Presidente do Governo Regional frisou que “não se trata de um regresso físico, nem a constituição ou a reconstituição da Comissão Especial de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia da Covid-19”, referindo que Tato Borges “cumpriu a sua missão e bem” na presidência da Comissão, “terminou-a, mas não perdeu vínculo de relacionamento, de aconselhamento connosco”. Portanto, vamos por partes. De dezembro de 2020 a agosto de 2021, a ligação profissional de Tato Borges à Região teve um encargo superior a 5 mil euros mês. De setembro de 2021 a 14 de janeiro de 2022, o aconselhamento telefónico foi (?) gratuito. A partir de 15 de janeiro de 2022, passará a custar 1.000 euros + IVA. Por causa da pandemia, o Governo da República proibiu os saldos até 9 de janeiro de 2022. O contrato de Tato não produz efeitos logo no primeiro dia da época de saldos, mas deve ter sido inspirado numa qualquer campanha de liquidação total… De qualquer forma, que consiga, desta vez, evitar tanto ziguezague!