Opinião

Crises

O mês de dezembro é o mês do Natal, da fraternidade e da família, mas também de balanço, de análise de situação, de percurso e de oportunidades. Nos últimos tempos são diversos os contextos, para os quais, por diversos motivos, não estávamos, individualmente e enquanto sociedade, habituados ou preparados para enfrentar.

Normalmente designados por “crises”. Destacamos: - a “crise política”, que no país conduz à realização antecipada de eleições legislativas, que ninguém queria, mas que foi provocada e está a acontecer, com a dissolução da Assembleia da República, decorrente da reprovação do Orçamento de Estado para 2022 que, pela primeira vez desde o 25 de abril, nem chegou à fase de especialidade; - a “crise migratória”, que teima em persistir, face a situações de conflito e desigualdades sociais que motivam pessoas a colocar em risco a própria vida, na procura de melhores condições sociais e de trabalho; - a “crise” pandémica COVID-19, que (re)surge com novas variantes, (re)ativando sistemas de proteção e medidas que contenham a sua propagação onde, apesar dos avisos constantes e da informação quase permanente, continua a surpreender a ciência internacional, gerando insegurança e contradições que teimam em persistir; - a “crise logística”, que se desenvolve à escala global, que resulta de um congestionamento do tráfego marítimo mundial, conduzindo a uma subida exponencial do preço do frete, com consequências nefastas para muitos negócios, investimentos ou novos contratos.

Esta última, “a crise logística”, parece-nos a menos abordada, no espaço mediático, contudo são já evidentes as consequências, algumas irreversíveis, no tecido social como o conhecemos logo, também, no combate às restantes “crises”. É já uma realidade a dificuldade sentida por muitos operadores, a uma escala global, nos circuitos logísticos, em toda a linha, desde a importação de matérias-primas à exportação de produtos acabados.

A dificuldade de concretizar exportações traduz aumentos de défices na(s) balança(s) comercial(ais). Registam-se grandes atrasos e uma escalada dos preços do frete marítimo chegando a atingir aumentos na ordem dos 1000% (mil por cento), que já se percebeu poderão ser incomportáveis para a maioria das empresas com um aumento significativo e inevitável do custo de vida para o consumidor final.

Portugal vinha a ter um desempenho muito positivo ao nível das exportações, que aumentaram cerca de 28% entre 2015 e 2019, com crescimentos de 20% no comércio internacional de bens e de 46% nos serviços. É um facto que as empresas portuguesas se conseguiram afirmar nos mercados globais, permitindo reduzir as taxas de desemprego para mínimos históricos (cerca de 6%), aumentar o salário mínimo nacional e prosseguir com uma trajetória de convergência com a União Europeia.

As exportações são essenciais no desenvolvimento económico, que se deverá focar no aumento da competitividade e na resiliência assente na capacitação do tecido empresarial para um crescimento inteligente, sustentável e digital.

O PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e o novo quadro comunitário assumem-se com instrumentos essenciais no reforço do potencial produtivo.

Um processo de transformação estrutural que passará pela reestruturação da indústria transformadora bem como por uma adequada (re)avaliação das cadeias de valor, com produtos de maior valor acrescentado e maior incorporação tecnológica.

Nos Açores, onde a presença e o impacto desta(s) crise(s) é uma evidência, importa que se traga esta reflexão para o centro das atenções, com realce para a Agricultura, a Pecuária, o Turismo e… o Mar.

Boas festas!