Opinião

“O que é que a gente vai fazer?”

Tenho amigos nos mais diversos quadrantes e partidos políticos. Por motivos profissionais, mensalmente, partilho com muitos, há mais de uma década, aeroportos, o avião, os corredores, a sala de plenário e o bar da Assembleia Regional e, ainda, alguns restaurantes da cidade da Horta. O futebol, por norma, dá o pontapé de saída nas conversas. Mas depois falamos sobre tudo e mais alguma coisa. Independentemente das nossas múltiplas diferenças. Desta vez, a caminho de mais um Plenário, não foi diferente. Ainda para mais com a política (baixa, muito baixa!) na ordem do dia. Era, pois, inevitável que o “titi” e outras tristes “palhaçadas” viessem rapidamente para cima da mesa. E assim foi. A opinião, como não podia deixar de ser, longe dos microfones e câmaras, é unânime. Ainda que se divida entre o “ao que isto chegou!” e “o que é que a gente vai fazer?” A diferença entre a exclamação e a pergunta está, obviamente, no lado da barricada em que cada um se encontra. A pergunta que até dá título a este texto é feita, obviamente, pelos “defensores” da atual solução de governo nos Açores. Como a pergunta, apesar de ser seguida de mudança rápida de assunto, não é retórica, vou aproveitar este espaço para ajudar os meus amigos em dificuldades. Afinal, os amigos servem precisamente para as horas mais difíceis. Neste sentido, quero aqui recordar que este fato onde se meteram foi uma criação de alfaiates do PSD, aos quais se juntaram mais uma quantas mãos, muitas tesouras e um frágil rolo de linha. Assim nasceu a “manta de retalhos”. E como o que nasce torto… Pois bem, a verdade é que o fato está diariamente a descoser. Como não prevejo nenhum milagre que reforce a frágil linha usada para juntar tecidos tão díspares e para evitar o surgimento de um qualquer atentado ao pudor, sugiro que o fato seja retirado pelos próprios criadores. Em nome da réstia última de dignidade que as funções exigem! Isto é uma das coisas que podem fazer. Haja coragem! De quem está no governo e de quem suporta parlamentarmente, com uma crescente e cada vez mais indisfarçável vergonha, o XIII Governo dos Açores. Na próxima quinta-feira, dia 25, terão uma oportunidade, através do seu voto, para separar águas. De nada vale dizerem, baixinho, que são diferentes do “outro” e depois ficarem de sorriso amarelo… na mesma foto. A subsistência do XIII Governo dos Açores está dependente do tal “outro”. Essa é que é a triste realidade. O “outro”, usado por Lisboa para outras guerras, sabe que tem o Governo na mão. É isso que explica o anúncio de uma remodelação governativa; a calendarização de atividades de um gabinete na esfera do Governo que está por criar e a apresentação de um rol de propostas que ferem de morte a social-democracia e os mais básicos direitos fundamentais! A coligação, com o PSD de Bolieiro à cabeça, está “sequestrada” pelo “outro” e o seu “chefe”. O resgate, nos filmes, costuma ser um valor monetário. Neste caso, não é isso que está em cima da mesa. Trata-se, apenas e só, de dignidade e amor próprio! E “isto” todos devíamos ter em doses exacerbadas. Será? (pergunta retórica!).